quarta-feira, dezembro 31, 2003

Sobre a dor de Josephine

Estou triste. Muito triste porque ando sozinha neste blog, bastante desanimada por não saber o real motivo de Edmund não estar escrevendo mais. Com a nítida certeza de que tenho algo a ver com isso. Não me perguntem o quê, mas tenho.

Sabe quando você sabe que há algo de errado relacionado à sua pessoa que atrapalha a vida de alguém? Tento falar com ele sobre o assunto até o ponto em que me sinto chata, coisa que não é muito difícil em se tratando de Josephine ButterFly.

Nasci chata. E isso faz tanto tempo que nem tem mais como consertar. Chatice de quase vinte e quatro anos é praticamente impossível de reverter. Muita chatice acumulada. Ainda que Eddie diga que não, eu sei que ele se cansa com isso.

Sei que este não é o melhor lugar para despejar minhas lamúrias, mas é que me doem os ossos quando sinto que estou sendo chata, pressionando, nem sei. Dói-me até os ossos pensar que ele não escreve, buscar algo novo nos textos antigos e descobrir que já tirei deles tudo o que eu podia.

Ao mesmo tempo não quero que ele escreva nada que não seja verdadeiro, nada por obrigação, porque estou pedindo. Doem-me os ossos (dos braços, na maior parte das vezes), literalmente, por não poder entrar dentro do cérebro dele e tirar aquele texto que sei que está lá. Ao menos não tentarei fazer isso, temo que ele não sobreviva se eu entrar em seu cérebro. Melhor não arriscar.

Nessas horas eu queria que alguns de vocês estivessem certos (se é que ainda há alguém que pense assim), gostaria de ser o Edmund, para fazê-lo voltar a escrever ou ao menos saber o real motivo de ele ter parado.

Eu não consigo. Nunca consegui. Talvez por sempre ter escrito, nos momentos bons e nos ruins, em tempo de alegria ou de tristeza, de tempestade ou de calmaria. Ele não. Começou a escrever por acaso e temo que por acaso também tenha parado. Temo que seja definitivo. E não acredito nele quando diz que não é porque de vez em quando mente. Mente sabendo e mente sem saber.

É por isso que hoje estou triste. Eu deveria estar feliz, me desculpem, não consigo.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

A Mudança

Desculpem a demora, eu deveria ter avisado. Achei que conseguiria fazer tudo de forma tranquila, ordenadamente e que nada sairia de minha rotina. Lêdo engano.

Enfrentei uma mudança e achei que ela em nada alteraria meu dia-a-dia. Pobre de mim. Troquei minha antiga moradia por um apartamento um pouco menor, perto da casa do Edmund. Infelizmente estamos tendo sérios problemas com a instalação da linha telefônica (ou melhor, a falta dela) e, consequentemente, meu acesso a este blog está sendo possível graças a uma daquelas casas de acesso equipadas com uns quinze computadores e centenas de pessoas querendo usá-los.

Edmund me auxiliou com a mudança, fez questão de envenenar todo o apartamento para que não houvesse nem a sombra de algum inseto pernicioso que quisesse tirar-me a vida ou impossibilitá-la de seguir seu curso em paz. No entanto, o único inseto a passar mal com o tal veneno fui eu. Cupins felizes e satisfeitos me cumprimentaram hoje cedo enquanto iam para o refeitório devorar a porta da cozinha.

Não sei, não me recordo muito bem, mas não me lembro de citarem cupins em "Highlander", só o que sei é que, fãs incondicionais dos Bee Gees e da Celine Dion, três cupins vestidos de preto, com chapéus e óculos escuros entoaram, melodiosamente:

"Staying alive
Staying alive
Ah- ah- ah- ah staying aliive"

Nada pude fazer, estirada no carpete, demolida, intoxicada pelo poderosíssimo inseticida espargido por Edmund em todos os cantos do diminuto apartamento. Nada pude fazer a não ser contemplar o belo trio ser acrescido de uma cupim de vestido longo, cabelos ao vento e olhos esbugalhados que entoou com eles a canção "Immortality" para, logo após, a pedidos, cantar uma música que ficou famosa ao ser trilha de um filme em que um imenso e suculento transatlântico afunda fazendo com que um belo casal de jovens cupins se afogue após jantar a proa.

Atendendo a pedidos:

Quinta-feira, Maio 08, 2003



Hoje, ao passar no supermercado, comprei algumas latas de sardinha, pois possuo imensa afinidade gástrica com elas (com as sardinhas, não com as latas). Ao chegar em casa e abrir uma delas, pude constatar que havia um espaço abundantemente grande lá dentro, sendo que esse espaço estava mal e parcamente preenchido por sardinhas.
Lembro-me bem que outrora tais recipientes eram de uma densidade populacional tão alta que fariam Tókio parecer um campo de golfe em dia de chuva. No entanto, agora era quase possível ver os prateados peixinhos nadando livremente no óleo comestível. A expressão "lata de sardinha" havia mudado diametralmente de sentido. Não se poderia mais dizer que isso ou aquilo era apertado como uma lata de sardinha, ao contrário, todos iriam querer que suas casas, automóveis e outros bens fossem como latas de sardinha, bem espaçosos.
Não acreditei em meus olhos. Aquilo só poderia ser uma alucinação. Mas não era possível, eu havia tomado minha medicação.
Abri outra lata, e outra, e outra, e outra. Todas iguais. Algo profundamente estranho estava acontecendo.
Formulei várias teorias para tentar explicar o fenômeno do espaçamento intersardinhal e cheguei à única conclusão racional possível: era tudo conseqüência da expansão do universo!
Todavia, no relato do dia dezesseis de abril, comentei sobre a incontestável prova do encolhimento do universo. A trama se complicava. Aparentemente, as teorias se contradiziam. Estaria o universo encolhendo a uma taxa assustadora, ou estaria nosso cosmos expandindo suas fronteiras incessantemente?
Meditei algum tempo sobre o assunto e entre uma sardinha e outra (eu tinha aberto 5 latas) formulei meu novo modelo cósmico.
O universo estaria, sim, expandindo-se. E ao mesmo tempo estaria contraindo-se.
Era óbvio. Somente um universo com zonas de expansão e contração agindo simultaneamente no espaço-tempo explicaria as estranhas aberrações espaciais que eu presenciava.
Visivelmente, a contração e a expansão do universo estavam restritas a algumas áreas, como cinemas e fábricas de sardinha em lata, e ainda assim em pequena escala.
Todavia, se minha teoria estiver correta, estriamos correndo um sério risco pessoal caso a tendência se concretizasse e iniciasse o aparecimento de áreas maiores e com taxas de encolhimento ou expansão de maior significância.
Imagine-se dormindo tranqüilamente em sua cama tendo sua cabeça dentro de uma zona de expansão e o resto de seu corpo em uma zona de encolhimento. Ao acordar pela manhã, você tentaria levantar e subitamente sua gigantesca cabeça cairia no chão enquanto seu psicodélico corpinho seria balançado pelos ares feito um João-Bobo às avessas. Ou pior, mergulhado no desespero e tentando equilibrar-se em suas insignificantes perninhas, você sairia correndo de seu quarto e ficaria com a cabeça entravada nos marcos da porta, somente conseguindo libertar-se após um pedreiro vir e quebrar a parede.
Tal futuro pareceria tenebroso mesmo àqueles com nervos de aço, e deixaria enjoado até àqueles de estômago forte.
Falando em estômago, acho que esse monte de sardinhas que devorei não me fez muito bem. Com licença...

postado por: EDMUND BONAPARTE 12:04 AM

sábado, dezembro 20, 2003

Tudo bem, eu confesso, fiquei esse tempo todo em silêncio para ver se alguém sentiria a minha falta. Como ninguém deu a mínima para o meu desaparecimento resolvi voltar. No entanto nem todos gozam do profundo desprezo dos leitores deste blog. Um leitor em especial, Thiago Dhatt, tem sido aclamado por uma horda de fãs nos comments deste blog por ter desaparecido após um período de intensa atividade comentativa.

Também senti a falta de tão falante criatura, mas devo advertí-los que muitos e muitos outros leitores também seguiram esse árduo destino. Para citar apenas alguns que costumavam ser frequentes e hoje entraram para o rol de pessoas desaparecidas, André (os dois Andrés), Rosenthal, Livs, Heiter (Van), Tustra e todas aquelas pessoas que deixaram seus comentários nos posts dos últimos oito meses (já disse que li este blog- e os comments- umas trinta vezes).

Alguns, firmes em seu apoio e solidariedade continuam, vez ou outra vindo aqui e deixo meu mais sincero abraço a criaturinhas tão gentis, M16, Egometipse, Moreno, Demetrius, Meazinha, Dostoiévski, Aldy, Pera, Verme, Clau, Jessica....muita gente, devo ter me esquecido de diversos nomes. Além, é claro, dos leitores novos, que este Diário adquiriu após a minha chegada, Blanda, Mirianne, Paulo, Marcinho, Mariana e tanta gente...

Talvez eu esqueça nomes de propósito, para que vocês reclamem e eu possa vê-los (ou lê-los), talvez Thiago Dhatt tenha sumido para que sintamos a falta dele e clamemos por seu retorno. Sei que ele volta, ou ao menos espero que sim.

Edmund ainda está estranho, mas já me revelou o grande segredo. Estava eu em minha casa dia desses quando ele apareceu (milagre, geralmente espera que eu vá até ele) e me convidou para ir à pizzaria. Gostamos muito desses programas engordativos, apesar de nenhum de nós dois termos facilidade de acumular gordura no corpo (ou em qualquer outro lugar), o que nos faz sair desses lugares profundamente frustrados (e empanturrados).

Pois bem, o programa estava muito romântico, conversávamos, comíamos e falávamos sobre diversas coisas, mas nada do Edmund revelar o grande mistério. Enfim, entre a pizza de chocolate e a de prestígio, ele tirou uma caixa do bolso.
-Jose, já há algum tempo tenho pensado nisso, não é de meu interesse arranjar outra namorada, visto que esta é uma empreitada bastante cansativa e extenuante. Para mostrar a solidez do nosso relacionamento, achei que seria de bom tom aceitar uma certa sugestão que me fez há algum tempo e comprei esse par de alianças prateadas.

Abriu a caixa e lá estavam elas: duas alianças de prata reluzente, uma delas querendo pular para meu dedo. Como manda o figurino (embora não conheça esse senhor autoritário), Edmund colocou a aliança menor em meu dedo anular direito e eu coloquei a maior em seu dedo correspondente.

Não digo que isso tenha sido novidade para mim, não foi. Há quase dois meses sugeri que comprássemos as tais alianças, mas Edmund simplesmente não conseguiu. Espero que um dia ele explique isso a vocês, mas Edmund tem um certo pavor de entrar em lojas desconhecidas, diz que os objetos ameaçam se atirar em cima dele. Entramos na joalheria e logo fui arrastada para fora por ele, que garantiu: os relógios, as jóias e os óculos estavam querendo se jogar sobre ele.

Consegui alguns avanços, por exemplo, entrei em uma loja de cosméticos com ele, que insistiu em me comprar um batom de presente. Apesar dos perfumes, cremes e maquiagens ameaçarem se atirar sobre Edmund, ele manteve a calma e conseguiu pagar e retirar-se, tranquilamente, daquele lugar. Foi uma vitória. Só gostaria de saber como é que ele fez para conseguir comprar, sozinho, as tais alianças. Não quis me dizer, talvez eu não saiba jamais.

Mais uma coisa que me ocorreu agora, sobre os leitores desaparecidos, Thiago Dhatt, principalmente. Talvez, e só talvez, eles estejam incluídos nessa terrível estatística revelada pelo Edmund no post que transcrevi abaixo. Infelizmente, se for verdade, jamais saberemos pois tais indivíduos agradáveis devem estar irreconhecíveis.
Para comemorar os oito meses deste Blog nesta semana de aniversário re-postarei alguns célebres posts do Edmund. Se quiser sugerir algum post que "vale a pena ver de novo" nesta página principal, manifeste-se pelos comments ou pelo e-mail

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Terça-feira, Maio 13, 2003



Hoje estava folheando algumas revistas e acabei deparando-me com uma antiga ilustração de um comercial de salsicha. Parecia realmente deliciosa aquela salsicha, colorida e enfeitada por linhas onduladas de mostarda e ketchup. Tudo em um ambiente altamente higienizado e apresentado por modelos de saúde e aparência impecáveis.

Entretanto, ao recordar minhas experiências neste planeta, não posso ignorar o fato de que nem tudo é o que parece ser. A bem da verdade, quase nada o é.

Digo isso porque a salsicha, dependendo de sua procedência, pode conter absolutamente de tudo em sua composição, sem que isso altere seu gosto ou sua aparência. Ela poderia conter até plutônio e urânio enriquecido, caso isso a tornasse mais barata (coisa que, para nossa felicidade e de nossos genes, não ocorre). Todavia, existe uma gama quase infinita de materiais (abomináveis em sua maioria) que podem ser adicionados em sua fórmula e que a tornam mais econômica e lucrativa para seus fabricantes, isso sem falar nos nitritos, nitratos e em outras substâncias altamente questionáveis utilizadas em sua conservação.
A lista de elementos aproveitáveis iria de matérias sem valor nutritivo, como celulose, até animais domésticos, como cães e gatos.

Pensando nisso, uma estatística que ouvi algum tempo atrás retornou ao meu consciente. Soube que, só no Brasil, cerca de cinco mil pessoas desaparecem todos os anos. Seriam mais de duzentas mil criaturas humanas a sumir da face da terra sem deixar vestígios. Parte desses desaparecidos é composta de pessoas que fugiram de seus lares e resolveram desvanecer-se por livre e espontânea vontade. Muitas teorias existem para explicar os casos restantes, que iriam desde conspirações governamentais a abduções alienígenas.
Minha teoria é bem mais simples. Eu acho que essas pessoas simplesmente viram salsicha.

É lógico. Qual outra fonte de proteínas seria tão abundante, barata e levantaria menos suspeita, caso desaparecesse, do que seres humanos?

Se resolvessem utilizar somente os animais que vagam pelas nossas cidades e matas, veriam que a oferta é pequena e de difícil captura, mas se, ao invés disso, resolvessem roubar gado ou outros animais domésticos, esses fabricantes inescrupulosos em pouco tempo teriam todos as forças da lei e da justiça em seus calcanhares.

Conscientes de que a vida humana e seu bem estar não possui muito valor perante os olhos da justiça e dos órgãos responsáveis pela sua promoção (a não ser no papel ou em relação aos indivíduos em destaque na sociedade), e sabendo que a quantidade de matéria prima disponível é imensa, fica claro que humanos seriam uma fonte de excelentes lucros.

Portanto, ao comer aquele cachorro-quente que tanto lhe enche de felicidade, lembre-se que você pode estar devorando seu semelhante.

Caso você tenha um estômago de aço e não lhe seja possível viver sem esse tipo de lanche, tente imaginar que o indivíduo embutido ali naquela salsicha seja alguém como Saddam Hussein, ou outro genocida que lhe agrade mais ao paladar.

postado por: EDMUND BONAPARTE 7:45 AM

terça-feira, dezembro 16, 2003

Cinema

Como todos puderam constatar, não cometi grandes atrocidades na alteração de links. Acredito que todos concordem, pois ninguém me escreveu reclamando....nem elogiando, a bem da verdade, ninguém me escreveu.

Um dos passeios que Edmund e eu mais gostamos de fazer, principalmente em dias chuvosos, é ir ao cinema. Felizmente depois que começamos a namorar ele não teve mais incidentes como os que relatou neste post (20 de Maio) , ao menos não que eu me desse conta.

Diferente de outros casais de namorados, quando Edmund e eu vamos ao cinema é para ver o filme. É claro, apreciamos a companhia um do outro e ir ao cinema é um belo pretexto para sentarmos juntinhos e....assistirmos o filme.

No entanto, querendo ou não, eventualmente passamos por situações que desviam nossa atenção da grande tela e, consequentemente, desviam a atenção de todos os indivíduos que estiverem sentados ao redor. De aporrinhado Edmund passou rapidamente à condição de aporrinhador.

Da primeira vez em que fomos ao cinema Edmund, por alguma razão não revelada, comprou dois pacotes enormes de pipoca e dois copos igualmente enormes de refrigerante, além de chocolates (imaginando, acertadamente) que tudo aquilo caberia em meu delgado espaço intra-gástrico. O problema é que somos dois desastrados e com aquele volume de produtos alimentícios, eventualmente algum desastre aconteceria.

Os chocolates engataram uma missão suicida e, como Camicases, atiravam-se na escuridão e lá ia eu descer da poltrona e tatear em busca da guloseima perdida. As pipocas, por alguma razão desconhecida, recusavam-se terminantemente a entrar em minha boca e jogavam-se ao chão, à semelhança dos chocolates. Até que em certa hora, tentando equilibrar todas aquelas coisas em meu colo, o saco de pipoca parcialmente cheio adernou, derramando quase todo o seu conteúdo em meu colo, minhas pernas e o chão. Como permanecer sério diante disso? Nem eu nem Edmund conseguimos tal proeza e tivemos um pequeno acesso de riso abafado, daquele tipo de risada disfarçada que chama ainda mais a atenção e incomoda milhares de vezes mais do que uma sonora gargalhada.

Em outra ocasião o filme estava tão bom que perdi o fôlego. O cinema era lindo e caro, mas provavelmente os ácaros residentes no filtro do ar-condicionado estavam comemorando Bodas de Prata naquele dia, fazendo a belíssima dança do ácaro flutuante. Minha bronquite-alérgica-quase-asmática-histérica, eufórica com tão maravilhoso balé (de tirar o fôlego mesmo) aplaudiu, extasiada, ao som de "Take My Breath Away"....

Nem preciso dizer que Edmund ficou ligeiramente desesperado e duvido que tenha prestado atenção decentemente ao filme. Mas eu estava bem (apesar de não conseguir respirar), queria ver o filme, sabia que sobreviveria. O chato dessa sessão é que adepois dela todas as vezes que vamos ao cinema ele me interrompe de quinze em quinze minutos para perguntar se estou respirando.

De resto, tudo muito bom, sempre nos divertimos demais e de vez em quando eu o atrapalho com um beijo ou algum comentário odioso sobre o filme (também detesto quando sento ao lado de alguém que fica dando opinião sobre a história no meio da cena), mas em linhas gerais, nos comportamos bem. Sempre que nos levantamos, nunca entendo o porquê, existem milhares de pipoquinhas forrando o corredor em que estávamos sentados e alguns vizinhos ligeiramente furiosos que saem de uma comédia com cara de velório. Nada posso fazer...ao menos nos lembramos de desligar nossos celulares, o que já é grande coisa.

Quase nunca, porém, nos lembramos de religar depois, mas esse é outro problema, irrelevante.

E se eu não lembrasse?

Será que alguém se lembraria? Hoje este blog está fazendo oito meses de vida!!! (Segundo Edmund, blogs são seres vivos) Pretendo escrever algo mais comemorativo outra hora, com desenho de bolo, essas coisas festivas, inclusive um post especial sobre o Diário de um Lunático. Por agora deixo vocês com o primeiro post deste blog, do dia 16 de Abril de 2003. E até a meia-noite do dia 16 (ou do dia 17 :) ) posto o texto comemorativo. Não sei quanto a vocês, mas eu fico absurdamente eufórica quando leio esses posts. Sou simplesmente enlouquecida pelos arquivos de Abril e, principalmente, Maio. Não que eu não goste dos outros, muito pelo contrário, mas é que esses têm um sabor especial. Chocolate, talvez.

Terça-feira, Abril 15, 2003











"Hoje entrei no blogger da Globo.com pra fazer alguma coisa seja ela qual for.
Acordei legal e continuei assim até que parei de estar assim, o que ocorreu em um dado momento entre o meu despertar e o que existo agora. Não consigo ser mais preciso do que isso. Meu relógio está estragado. Malditos relógios.

Detesto camarão.
Só há uma coisa que me enfurece mais do que camarão: propaganda enganosa. Se camarão fosse realmente CAMARÃO ele não seria tão pequeninho ou então se chamaria camarinho.
Eu pedi camarão. O sujeito me perguntou quanto eu queria. Eu respondi: "dois". Puxa vida, se um camarão é um CAMARÃO a lógica diz que dois CAMARÕES devem ser suficientes, embora eu não entenda nada de lógica.
Quando eu terminei de fritar meus camarinhos, não deu nem pra encontrá-los no meio do óleo. Graças aos céus eu detesto camarão, senão eu iria passar fome naquela noite.
Espero que o dia de amanhã seja melhor do que o dia de hoje, porque o de ontem foi. "


postado por: EDMUND BONAPARTE 2:32 AM

sábado, dezembro 13, 2003

Sob (o meu) controle

É sempre assim. Elas começam pedindo um pedacinho da sua unha, daqui a pouco já lhe arrancaram o braço inteiro. Pois é, Edmund me deu as chaves do blog. Entrei me auto-convidei, criei meu próprio login e senha e me promovi a administradora. Até aí nada de mais.

Agora ele me deu carta branca para alterar o que eu quiser por aqui, repetiu o tal do "tudo o que é meu é seu" e frequentemente refere-se a este blog como "Nosso blog". Nosso blog? Sou simplesmente escritora substituta e o substituo muito mal, como pode notar.

Maaaas, se ele quis assim, então tá. Caneta e papel na mão, comecemos a anotar as reformas que precisam ser feitas. Meu senso histórico não me permite mudar muita coisa aqui, mas encontrei um grande depósito de lixo e como uma déspota desvairada, decidi que organizaria os links.

Entrei em um por um dos blogs linkados (eram muitos) e descobri que milhares deles haviam sido excluídos do Blogger. Deletei-os eu também. Também afastei os que tiraram o link para o Diário (ou alguns, não sei) e outros ao meu bel-prazer (ao todo foram quase trinta links deletados).

Consertei alguns nomes errados e os coloquei em ordem alfabética, linkados única e exclusivamente pelo nome do Blog. Também acrescentei mais alguns e ainda posso fazer as alterações que quiser. O que fiz foi tirar "o grosso da coisa", ainda hoje passo o pente fino e vejo se há mais um "deletável" na lista.

Sou desligada, caso eu tenha deletado seu blog, pode ter sido de propósito, mas pode ter sido sem querer. Se você não acha que eu deveria tê-lo deletado, mande-me um e-mail atenderei às solicitações tanto de re-inclusão, quanto de inclusão (se você não está linkado, mas acha que deveria estar). A política deste blog é a de linkar os blogs que nos linkam, isto é, somos seus amigos enquanto você é nosso amigo. :) Mas também depende do conteúdo. Agora, pelo menos.

Como agora existe uma mão feminina a guiar todo esse imenso caos negro de letrinhas brancas, este é um blog-família e eu uma criatura bastante conservadora. Não linkarei blogs que divulguem idéias criminosas nem nada que eu considere conteúdo pornográfico. Também tem que ter link para cá, senão não tem graça nenhuma, como gostarei de você se você não gosta de mim?

Lembrem-se, procurem seus links pelo nome dos blogs, em ordem alfabética. Hoje, mais tarde, farei um novo "upgrade" nesses links, dessa vez com pente fino. E incluirei outros, momento da reciclagem. Espero que ninguém fique bravo comigo, estamos abertos a negociações.

Hehehehe...o Diário eu já consegui, meu próximo passo será dominar o mundo!!! ;)

PS: Sumiram por quê? Será que eu os traumatizei com o post de ontem? Já passou, viu? Podem voltar a comentar.

PS 2: Pleno sábado, Edmund me deixou aqui brincando com os links e desapareceu....

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Estranha

Acordei sem vontade de escrever neste blog. Não falei sobre isso com Edmund. Acordei sem vontade de falar com Edmund também. Acordei ligeiramente melancólica e acho que nem deveria acordado, se era para ficar assim. Tendo que reunir pedaços de mim espalhados pela casa. Quanto mais pedaços recolho, mais despedaço minha alma.

Não mais do que de repente acordei sem vontade de escrever. Como se eu não fosse digna deste blog, como se ele não fosse meu, como de fato não o é. Às vezes fantasmas sobrevoam como bruxas e não sei se a mulher com a vassoura veio mesmo fazer faxina. A cada camada de poeira que ela diz querer tirar, mais sujeira espalha pela casa.

Foi Edmund quem a contratou, eu disse que não precisava. Ele não acha que eu deva executar deveres domésticos nesse estado, explico: pessoas que precisam catar seus pedaços não podem varrer pedaços. Correm o risco de varrer a si mesmas. Não quero colar pedaços, quero guardá-los na caixa. E temo que a velha bruxa fantasma resolva misturá-los a outros pedaços e assim eu não consiga guardar todos os pedaços e muitos (ou alguns) permaneçam espalhados por aqui.

Quero todos os pedaços, todos. E ela quer que eu deixe alguns pelo chão. Meus pedaços quero espalhar pelo carpete, todos meus, todos seguros, que nenhum fique para trás, me chamando de volta, não quero. Mas ainda me falta coragem para catar os pedaços. São muitos, pesados, revirar pedaços de mim e me sentir inteira.

Acho que tomei alguma coisa estranha no café da manhã. Será possível que troquei minhas vitaminas por um dos medicamentos do Edmund? Tem um, eu o peguei para jogar fora, vidro muito parecido, uma das reações adversas é confusão mental e também alucinações. O médico suspendeu. Como pode Edmund ter que tomar uma medicação que causa alucinações e outras que as combatem? Se retirar o medicamento que as combate viverá alucinado, mas se retirar o que as causa não precisará tomar os que as combatem. Ou suas alucinações independem de medicação, não sei bem, deveria falar com o médico, mas acho que não estou em condições.

Hoje acordei sem condições, sem condições de nada. A velha vassoura de piaçava atrás da porta, escondi a vassoura da bruxa, fazendo aquela velha antipatia para que a visita vá logo embora. Aí ela não foi porque não achava sua vassoura, esqueci desse detalhe. Tive que revelar onde ela estava e a velha bruxa continua a rondar. Não será ela a impedir que eu cate os caquinhos que tão cuidadosamente espalhei pelo chão.

Os caquinhos, os pedacinhos de nós que sempre deixamos pelo caminho, com pessoas que amamos, em nossas coisas, nossas cartas de próprio punho e tantas outras coisas que testemunham o quanto vivemos, nossa história, nossas raízes....a velha bruxa que ronda nossas mentes e nos impede de voar. Não se preocupem, se troquei os medicamentos o efeito deve passar em breve...breve quando?

Tem algo de estranho em minha cabeça. Edmund disse que aquele negócio que ele falou que ia dizer não é uma coisa ruim, mas reiterou que só falará daqui a alguns dias. Talvez isso, talvez isso me deixe um pouco mais confusa e nervosa, catando caquinhos e mandando a tal bruxa ir catar coquinhos na esquina.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Acho que tenho uma boa notícia. Fiz amizade com o Criado Mudo (sim, isso foi um link, clique). Ele ainda não conversou comigo, mas ando notando algumas atitudes mais amigáveis. Antes, quando eu procurava algo e ao perguntar para Edmund recebia a resposta "está sobre o criado-mudo" imediatamente a coisa em questão desaparecia. Nunca consegui encontrar nada que ele me garantisse estar sobre o criado-mudo. Quando ele ia procurar, encontrava, exatamente onde dissera estar. Por isso passei a desconfiar que o móvel trabalhava contra mim.

Hoje, porém, sozinha na casa de Edmund, conversei um longo monólogo com o criado-mudo. Não que eu esperasse uma resposta, mas estava sozinha na casa e resolvi fazer uma tentativa. Vai saber se a coisa realmente era um ser vivo, como Edmund faz questão de apregoar? Percebi que ele me olhava de uma forma mais amigável e pude então dizer a ele o quanto era importante que ele, o cabide e o guarda-roupa me aceitassem naquela casa e que não queria que Edmund fizesse a difícil escolha "ou eu ou os móveis". Poderíamos tranquilamente viver em harmonia. Acho que ele se comoveu. Senti algo diferente, quem sabe podemos realmente ser bons amigos?

Quando Edmund chegou, o percebi ligeiramente estranho, até agora não me disse o que aconteceu, mas falou que está esperando apenas uma decisão importante para me comunicar algo que mudará toda a história que temos vivido até agora. Temo já saber o que é e amanhã conversarei com o Cabide sobre isso. Acredito que Edmund esteja planejando separar-se de mim e talvez até já tenha outra em vista.

Acho mesmo que ele pediu outra menina em namoro e está esperando a decisão dela para terminar comigo. Isso me deixou muito angustiada hoje, Edmund passou o dia inteiro calado, dizendo que me explicaria tudo em quatro dias. Tentei contar que estou melhorando meu relacionamento com o criado-mudo e ele apenas sorriu. Apenas sorriu!!! O que significa isso? Detesto quando ele faz suspense.

Fui à noite lá. Precisava conversar com o criado-mudo. Edmund já estava dormindo e a conversa ocorreu em surdina. Falar com o Criado- Mudo me ajudou bastante, voltei para casa bem mais tranquila e confiante de que não é do feitio do Edmund interessar-se por mais de uma mulher simultaneamente. Criado-Mudo tem razão, tenho que deixar de ser tão insegura e ansiosa.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Mais uma vez agradeço os sempre impulsionadores comentários que tanto me enchem de alegria. Moreno e Thiago, fiquei muito triste ao tomar conhecimento do estado deplorável das vossas geladeiras. E Luciana, recheado meu refrigerador estaria se tivesse alguma das coisas que eu procurava. Como não tinha nada, não posso considerar couve e tomatinhos como recheio satisfatório. Kaká, você só come churrasco e cerveja? Temo por um crescimento considerável de sua barriga :) e acho que você também deveria temer.

Jessica, a insaciável: me pediu o post sobre nossa história, eu fiz, pediu uma foto nossa, eu coloquei, não satisfeita agora pede uma foto mais nítida? Acho que ando te acostumando mal, menina. :) Calma, já foi uma vitória conseguir que Edmund me deixasse postar aquela foto! Sinceramente, não vejo necessidade de fotos nossas nesse blog. Bastam os desenhos e os textos, não?

Marcinho, seu comentário me deixou bastante feliz, mas um tanto quanto preocupada. Será que os lactobacilos do Yakult da minha geladeira estão mortos? Agradeço por seu comentário elogioso. Paulo Augusto, também feliz por seu comentário. E estou andando muito com o Edmund, pior, pelo visto parece que andarei cada vez mais. Será isso perigoso para minha saúde mental?

Falando em Yakult e em lactobacilos, lembrei da minha infância. Me recordo que passei anos sem ingerir uma gota sequer de Yakult depois que descobri que ele continha os tais "lactobacilos vivos". Com esse nome, os monstrinhos deveriam ser potencialmente asquerosos. Senti-me ameaçada por tais criaturas microscópicas e sempre que tentava tomar a tal bebida láctea, juro, sentia os tais lactobacilos se mexendo, dançando, preparando algum ritual canibal em meu estômago e a primeira reação era náusea e repulsa.

Muitos e muitos anos me separaram do Yakult e até hoje não me sinto completamente à vontade com deles, por isso minha pouca comunicação com a bebida. No entanto pretendo administrar o misterioso líquido aos meus futuros filhos. Só não contarei a eles da existência dos animaizinhos dentro do troço que estão tomando. Aliás, não contei ao Edmund também porque acredito que ele teria reação semelhante. Melhor nem arriscar.

terça-feira, dezembro 09, 2003

A fome noturna



Tenho os hábitos alimentares de uma pessoa gorda. Acredito que meu cérebro seja gordo. Ao menos ele. Três horas da manhã e começo a sentir vontade de comer alguma coisa. Abro a geladeira e descubro que não há nada de realmente inútil lá dentro. Nenhum chocolate, nem bolinhos, nem refrigerante, sorvete, bolacha recheada, nada. Até tinha ontem, mas minha sobrinha comeu todo o meu chocolate e as bolachinhas. Convenhamos, com cerca de um metro de altura ela tinha mais direito sobre aquelas guloseimas do que eu.

Abro o armário. Uma caixa mal fechada com restos de Moça Flakes. Sem opção, pego a caixa e volto a sentar em frente ao computador (eu e meus hábitos saudáveis). Meu gato estranha que eu esteja comendo ração à esta hora. Depois de um tempo, também estranho. Não estou gostando muito desse cereal, não está muito crocante e parece sem graça puro, ele fica melhor com iogurte, mas não tem mais iogurte na geladeira.

Volto à cozinha. Abro novamente o refrigerador. Uns pacotes não identificados que tenho certo receio de abrir. Abro uma sacola na última prateleira, láááá embaixo. Uma couve. Uma couve ???? Um pé de couve, para ser mais específica. Não, não me interessa levar um pé de couve para comer em frente ao computador.

Volto às primeiras prateleiras. Uma caixa daquelas de sorvete cheia de...tomate cereja! Amo tomate, esses tomatinhos minúsculos então, melhor ainda. Pego um e coloco na boca. Tomates são refrescantes, não sei por que a insistência em tacar sal para acabar com o gosto deles e ficar com uma sede absurda. Como outro. Me vejo sentada ao computador, uma caixa de tomatinhos no colo, devorando-os, um a um. Não, muito estranho. Guardo a caixa de volta na geladeira.

Iogurte natural desnatado, daqueles que não têm açúcar, não têm adoçante, não têm gosto, não têm nada além de...iogurte. Não. Pão de forma, margarina, aquele queijo minas delicioso...preguiça de fazer sanduíche a esta hora. Yakult...hum...até gosto, mas eu olhei para ele, ele olhou para mim e acho que não estávamos muito interessados um no outro.

Ah, tem suco! Pego a caixa. "Suco de maçã Carrefour"??? Não, deixa quieto. Preguiça de olhar o resto, pego um copo, encho de água e tomo. Deve ser o quinto do dia. Subitamente, a vontade de comer desapareceu. Será que não sei mais diferenciar vontade de comer e sede?

Acho que a preguiça, definitivamente, é a melhor amiga da minha boa forma.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

O beijo

Ontem não voltei para casa. Edmund estava cansado e ligeiramente abatido, achei melhor ficar de olho nele durante a noite. Enquanto ele dormia revirei seus registros antigos, cartas, textos, tudo o que podia achar sobre seu passado recente. Foi um exercício interessante. Imaginar Edmund sem mim, como ele vivia sem sequer saber de minha existência. Deve ter sido difícil para ele passar tanto tempo sem me conhecer. Às vezes ele transparecia isso entre uma palavra e outrados guardados que eu lia, outras vezes parecia tão envolvido com o presente daquele passado que nem se dava conta que o futuro não seria aquilo.

Não sou de ficar revirando bolsos e vasculhando a carteira em busca de algum indício de infidelidade, Edmund não seria capaz de trair-me. Não por incompetência, mas por caráter mesmo. E ele não é do tipo que fica "caçando" mulheres por aí, mas já tive alguns problemas de insegurança por culpa de alguns dos seus hábitos bizarros.

Todo casal enamorado sabe que não existe momento mais sublime do que um beijo apaixonado. Aquele momento em que você se entrega, olhos fechados, corpo flutua, nada mais existe ao redor, nenhum som, nenhum ruído, nada poderia quebrar a mágica do momento. Nada?

Em minha curiosidade narcísica abri ligeiramente os olhos para observar a expressão extasiada de meu enlouquecido namorado. Qual não foi minha surpresa ao percebê-lo de olhos abertos, seguindo o movimento da rua enquanto me beijava! Meio sem jeito, testei outras vezes, em outros locais, outros horários, outras situações, uns dois ou três dias para ver se o comportamento se repetia.

Nada se alterava. Ele estava olhando para mim, fechava os olhos ao colarmos os lábios e, como se tivessem vida própria, eles se abriam e passavam a observar tudo o que acontecia ao redor. Indignada com tamanha falta de respeito, perguntei a ele o porquê de agir daquela forma. Ele ficou surpreso. Simplesmente não notara que esbugalhava os olhos durante o tão enlevante beijo, em busca de algo mais interessante para acompanhar.

Garantiu-me que enquanto seus olhos o mantinham alerta contra eventuais catástrofes, perigos e predadores, sua mente e seu coração permaneciam conectados à magia daquele momento sublime. Percebendo que eu jamais aceitaria aquela situação, propôs mudar seu comportamento e testamos alguns beijos de olhos fechados (eu de olhos abertos, para ver se ele cumpria a promessa), vez ou outra os olhos, desesperados, tentavam abrir, mas ao perceber meus enormes olhos controladores, fechavam-se, apavorados.

Quando finalmente acreditei que o extenuante trabalho de reeducação havia chegado ao fim, dei-lhe um beijo de agradecimento, ainda observando-o com os olhos semicerrados. Então subitamente, uma convidativa voz feminina iniciou uma conversa em movimento perto de nós (estávamos sentados em um banco de um parque e duas moças passavam conversando, enquanto faziam jogging). Sincronizados com a voz da tal lambisgóia, os olhos de Edmund abriram-se e, ignorando os meus, esgueiraram-se à procura da dona do timbre esganiçado.

Parei o beijo e fiquei bastante brava. "Abriu os olhos para ver se a garota estridente era bonita?" Edmund, com a expressão de nada que lhe é peculiar quando confrontado (aquela cara de "não fui eu"...pior é que nunca foi mesmo) respondeu que não, aquilo fora apenas uma reação involuntária a um som estranho. Garantiu-me que teria acontecido a mesma coisa se tivesse ouvido latidos de cachorro ou ganidos de pato atrás de nós.

Mas ele foi para o castigo assim mesmo. Meia hora sem beijos. Desesperado (Edmund é extremamente beijoqueiro), prometeu nunca mais abrir os olhos durante um beijo, ainda que um caça se espatifasse a vinte metros de distância ou um ovni aportasse a dois metros de nós e toque "Jingle Bells" com instrumentos feitos de crânios humanos.

Finalmente deu certo. Agora Edmund não se sente mais ameaçado quando fecha os olhos para um beijo, sabe que naquele momento ele está em segurança porque desmaterializa-se e ninguém mais pode vê-lo (ao menos eu o fiz acreditar que é assim). Confesso que de quando em quando ainda dou uma espiadela com o canto de um dos olhos semicerrados e desenvolvi um vigésimo sentido, que faz com que eu abra os olhos no exato momento em que ele também abre. É, ainda acontece. É raro, mas acontece e ele tem se policiado para que esse problema não volte.

Eu lhe expliquei que quando fechamos os olhos aguçamos os outros sentidos e qualquer contato fica mais intenso. Assumiu que realmente é melhor assim. E eu deveria ganhar um troféu "paciência de ouro" por esses quatro exaustivos meses de convivência com tão agradável criatura. Se houvesse essa premiação. Se bem que ganhar um troféu por fazer um beijo bom ficar ainda melhor é, no mínimo, covardia.

sábado, dezembro 06, 2003

Escrevo para agradecer a todos que se emocionaram com "a história de nós dois" do post anterior, responder algumas perguntas e mandar poucos recados, primeiro, sim, o livro sairá e quando ele estiver à venda, ainda que vocês tenham lido tudo aqui (e vai ter coisa nova também), terão a obrigação de comprá-lo, ora bolas, M16, que espécie de fã do Edmund é você? Tem que dar uma força e comprar o primeiro para viabilizar o segundo. Afinal de contas, vocês são os únicos leitores que ele tem, se nem vocês comprarem, fica difícil. Ou então a gente fecha o blog para você comprar os livros :)

Tirando as dúvidas: sim, as figuras que acompanham o post anterior são eu e o Edmund. Ah, e para quem perguntou: é claro que essa história é real, aliás, acontece todos os dias. Quem nunca viu alguém cair da Dimensão-Zeta na varanda de sua casa? Contei a nossa história, do nosso jeito. Quem a conhece sabe que foi assim, daquela forma e que tem sido assim...ele não me leva para comer camarinhos (quem não sabe o que é isso, leia o primeiro post deste blog- nos arquivos) porque sou alérgica, vive sem as latas de sardinha porque também sou alérgica. A gente vê a vida com os olhos que escolhe ver. Nossa vida é vista assim. E se ela pode ser contada assim é porque, de alguma forma, foi assim que aconteceu.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Atendendo a pedidos...

Em belo dia do final de Julho último, estava eu lixando minhas unhas na sala de casa quando ouvi um barulho na varanda. Parecia o estrondo da queda de um saco de cimento sobre o gramado. Corri para a janela e pude ver um corpo em meu jardim. Apavorada, procurei as chaves e, trêmula, abri a porta da frente. Estranhamente não havia ninguém ali, o tal corpo havia desaparecido.

Após tão amedrontador ocorrido, coloquei minhas sandálias e resolvi sair de casa. Passei algumas horas perambulando pela vizinhança até resolver meditar um pouco em uma praça que fica a duas quadras da minha residência. Ainda atordoada, sentei-me no gramado, observando as crianças que brincavam, os pombos sendo alimentados por velhinhos, a menina que brincava com o cachorro, o mendigo conversando com o banco da praça, a mulher que....mendigo conversando com o banco da praça? Olhei de novo. Sim, parecia o corpo que eu vira em meu jardim!

Olhei melhor. Sujo, machucado e com a roupa rasgada. Apesar do estado deplorável, dava para perceber que não se tratava de um mendigo qualquer (nem de um mendigo especial). Aproximei-me, ainda um pouco receosa.

-Com licença, moço...ham...estou atrapalhando alguma coisa?- Ele ergueu os belos olhos (escondidos pelos óculos espatifados)
-De maneira nenhuma, estava aqui tentando convencer este banco de que não há motivo algum para ele não me deixar dormir aqui.

Tão impressionada fiquei com aquela bela voz (meu coração disparou e eu perdi o fôlego por alguns instantes, caindo sentada sobre o banco) que ignorei a resposta, julgando ser apenas fruto de uma mente espirituosa. Não podia sequer supor que aquele indivíduo realmente conversasse com os móveis. Continuamos a conversa, eu, cada vez mais absorta naquela voz, naqueles olhos e naquelas belas palavras, mas tomando o cuidado de não me iludir. Tanto cuidado tomei que a pulsação voltou ao normal, respirei com facilidade e consegui ouvir o que ele estava dizendo e compreender com clareza.

A princípio acreditei que ele tivesse sido assaltado, atropelado, coisas do tipo, mas logo ele me disse que voltara da Dimensão-Zeta (não faço idéia de onde seja isso, mas ele me disse que estava vindo de lá) e se esfolara todo ao tentar passar por uma brecha no portal que estava quase se fechando. Nesse momento comecei a desconfiar de que tal gozador poderia ser, efetivamente, doente. Ri de minha suposição e continuei a viajar pelas palavras do então desconhecido. Contou de certa vez em que virou suco e me explicou a razão de tal fato. Falou de uma certa pessoa que o fez acreditar em certas promessas que ela jamais poderia cumprir e mostrou certo alívio por poder conversar tantas coisas comigo.

Sensibilizada, perguntei a ele se gostaria de tomar um banho, colocar uma roupa limpa (tinha algumas peças que meu irmão deixara em minha casa) e comer alguma coisa.

-Antes - disse ele - gostaria de pedir-te uma coisa.
-Estando ao meu alcance...
-Possui um computador?
-Sim, tenho um em minha casa, por quê?
-Acesso à internet, microfone, placa de som, coisas que possam colaborar comigo?
-Claro- eu ri- meu equipamento é bastante amável.

Estranhei que antes de comer, tomar banho, consultar um médico, fazer curativos ou executar qualquer outra atividade que aliviasse um pouco seu desconforto, ele tenha preferido utilizar um computador com acesso à internet. Então ele me contou que mantinha um blog, me explicou que havia dezenas de pessoas que o esperavam há pouco mais de dez dias e que não podia deixar de escrever. Seu braço, porém, estava muito dolorido e ele, imensamente ferido e cansado.

Sugeri que, ao invés de escrever, falasse e o indaguei sobre alguma forma de fazer isso. Lembrando-se de já ter visto esse tipo de recurso em algum outro blog, resolveu então gravar a lendária mensagem de voz que a maioria de vocês já ouviu. Depois, aí sim, tomou um banho, ajudei com os curativos, comeu alguma coisa e desmaiou em minha cama.

Loucura deixar um estranho entrar em minha casa, comer minha comida e dormir em minha cama, mas só quem já olhou nos olhos de Edmund pode saber o porquê de eu ter feito isso, pode entender o porquê de eu tê-lo deixado entrar em minha casa, entrar em minha vida daquela forma tão pouco sutil.

No dia seguinte, já recuperado, disse a mim que precisava voltar para casa, seus medicamentos haviam acabado e ele temia pelo que pudesse acontecer. Não me explicou quais eram esses medicamentos, mas disse que eram essenciais para a sua sobrevivência. Imaginei que ele tivesse alguma cardiopatia ou coisa que o valha. Não, eu não tinha notado que ele era lunático, achei apenas que era diferente, mais sensível do que a maioria dos homens que eu conhecera, com um senso de humor fora do normal e uma inteligência incomensuravelmente absurda. Disse que me arrumaria e o levaria até sua casa. E assim fiz.

Conversamos muito no trajeto, contando a minha vida, lhe falei sobre minhas experiências como estagiária de uma clínica psiquiátrica e ele comentou que já estivera em uma. Imaginei, em minha ingenuidade, que, filantropo, tivesse visitado os pobres internos e levado alimentos, dinheiro, roupas, agasalhos, remédios, ou, simplesmente, afeto para tão necessitadas pessoas. Passei a admirá-lo ainda mais por tamanho gesto humanitário. Despedi-me após anotar o número de telefone que ele tão gentilmente me cedera.

Apesar do meu profundo interesse, só iniciamos um relacionamento (primeiro de amizade, para, poucos dias depois, transformar-se em uma história de amor bem melosa) dia dois de Agosto. No último dia de julho eu entrei em contato e, como ele não estava, deixei um recado em sua caixa de mensagens, dizendo que estava feliz por ele ter se recuperado.

No primeiro dia de Agosto foi a vez dele deixar um recado: queria conversar comigo. Na manhã seguinte, a luz do sol o chamou e felizmente ele atendeu às súplicas do belo dia (por insistência do Cabide, ele diz), por conta disso acabamos nos encontrando em outra praça, por um quase acaso. Descobrimos nossas afinidades, os textos, os desenhos, as músicas, o coração e tantas, tantas outras coisas.

Aos poucos descobri que estava diante de um lunático. Antes de apavorar-me com tal situação, decidi ajudá-lo, percebi que ele não poderia ficar sozinho, à mercê dos coelhos, cobras e aracnídeos perigosos, notei que por diversas vezes ele esquecia de tomar os medicamentos e decidi eu mesma ficar responsável por tal tarefa. Desde então Edmund não pode viver sem mim e eu também não consigo conceber minha existência sem ele (embora, por diversas vezes, ainda tente), sem seu modo limpo e suave de ver a vida, sem sua tranquilidade, sem as intermináveis horas que passamos conversando sobre tudo e sobre nada, sobre qualquer coisa e absolutamente todas as coisas.

Descubro-me a cada dia menos normal do que pensava ser, a cada maluquice do Edmund que compreendo, descubro uma nova Josephine, analisando menos e sentindo mais. Pois bem, pediram a nossa história. Não podem reclamar da melosidade das palavras. Não há outra forma de contá-la e nem assim ela fica tão bonita quanto é, de verdade.
Como postei o comentário crítico, postarei aqui as respostas de alguns dos nossos leitores ao tal comentário:

"Gostaria de saber se o autor da critica tem capacidade para superar tua literatice... Como diria minha irmã: ABSTRAIA. Anh... Eu acredito que anti-bloggers (segundo a minha teoria de log/anti-blog, que ninguem conhece), visto que, ao contrario dos bloggers, tem interesse em textos mais compridos e elaborados, sejam criaturas assexuadas, ao menos enquanto "seres virtuais"...
Verme

"Depois do comentário do Verme resta pouco a dizer. Acrescento apenas: deixa o povo espernear e a mulherada enciumada falar. É tudo despeito. "
Moreno

"não esquenta Jô (ó a intimidade)... ninguém agrada a todos. É + do que normal!
pera

"Josephine eu não concordo com esse comentário maldoso de alguma mulherzinha invejosa. Vc é par perfeito para o Bonaparte ( porque será?). Tão criativa quanto ele.Gosto do seu sarcasmo, das suas entrelinhas ( talvez ela não tenha entendido isto ( matei a charada--as entrelinhas foram culpadas por essa confusão toda). continue sim. Fique ! ele é teu par. Vc é par dele. Ele sabe o que faz e vc tb e eu sou uma tremenda puxa-saco né não? rs Beijos ,adorei seus posts ( uma pena que tal qual o Ed, meu tempo sumiu ) Cheguei aqui para saber quem foi que engoliu meu tempo. Vou perguntar pra ele.Quem sabe ele tenha a resposta.Será? "
Ana

Obrigada a vocês por tão impulsionadores comentários, prefiro acreditar na opinião de vocês e do Edmund, sinceramente, soa-me mais agradável. Verme, fiquei curiosa para saber sua teoria desconhecida, Moreno, foi exatamente essa a palavra que Edmund usou: "despeito" (ei, você que me criticou, não tenho culpa, foi Edmund quem disse, estou apenas transcrevendo), Pera, não esquento não, mas divirto-me um bocado. E por fim, Ana, pois é, nem todo mundo compreende sutilezas :). Não se tolha por julgar seu comentário puxa-saquismo (eu não achei, para mim ele foi sincero e muito agradável :) ). Bom saber que se agradam da minha presença por aqui....é bom que se agradem mesmo, porque ficarei por tempo cada vez mais indeterminado. :) Cada vez mais. :)

terça-feira, dezembro 02, 2003

Criticada





Deparei-me hoje com estranhos comentários acerca da minha pessoa (eu, para quem não sabe) nos dois posts de hoje cedo. No mais recente, apesar de acreditar que este comentário não foi para mim e sim para uma tal "Josefina", choquei-me com a veracidade de tais informações.

"Josefina, infelizmente você não chegou nem perto da virtude literária de Ed, lamento. Falta um pouco de criatividade, aulas de português e bom senso... Muito sem graça, com todo o respeito. Leia mais, instrua-se mais, porque é de grande responsabilidade escrever no blog de Ed. Não permita que seus fãs se afastem dele por sua causa. Abraços sinceros

Realmente a moça não disse nada que eu já não soubesse (exceto a parte das aulas de português porque ao menos o idioma acredito que eu domine). O escritor da casa é, sem dúvida alguma, Edmund, mas enquanto tal gênio literário permitir-me invadir seus domínios virtuais, aqui permanecerei. Por ele ser tudo isso que vocês sabem que ele é, confio em seu julgamento crítico-literário e acredito que ele sabe o que faz, o que diz e o que permite(mesmo porque tem tomado os antialucinógenos regularmente).

Estou apenas preenchendo a lacuna enquanto ele não vem. E pode ficar tranqüila, com menos leitores do que esse Diário tinha quando estava abandonado às moscas, antes de eu vir, ele não ficará, isso eu garanto. :)

Imaginei que despertaria terríveis reações das leitoras, principalmente, pois é realmente uma grande decepção procurar pelo grande Edmund e encontrar a pequena Josephine. Porém estejam certas de que sobreviverão a esse terrível choque e em breve poderão contar com o brilhantismo do nosso amado mestre. Para a minha alegria, entretanto, a reação da maioria tem sido positiva, principalmente dos rapazes, o que me leva a crer que algumas (não todas) garotas possam estar enciumadas.

Uma coisa porém me deixou muito feliz nesse comentário: ao menos uma pessoa que tem tanta certeza absoluta de que não sou o Ed que é capaz de despedaçar-me em praça pública :) Finalmente! Obrigada, obrigada, obrigada! Obrigada por acreditar em mim!

Outro que eu respondi, mas gostaria de comentar: "Sim, há uma diferença desde primeiro Post (23 Novembro) ao último (02 Dezembro), tanto no vocabulário quanto na estrutura literária, o Edmund não cometeria essa "falha", o que prova sua tese de não ocuparem o mesmo corpo, humildemente devo admitir que estava enganado, mas continuo a admirar estas obras feitas de palavras, e parabéns, confirmo a teoria do Edmund, você tem muito talento Josephine".

A última parte deste comentário consertou a primeira. Mas gostaria de explicar uma coisa: minha intenção com os primeiros posts foi não causar um choque muito grande e ir "josephinizando-me" gradualmente, como fiz. Pena que, pode ser, eu esteja descaracterizando o Diário. Caso seja assim, deixarei para postar apenas quando estiver realmente alucinadamente inspirada, nos dias em que passar 24 horas ao lado de Edmund. No final das contas, algumas (nem todas) pessoas já estão conformando-se com minha individualidade, o que é perfeito!

Para a tristeza de muitos e alegria de outros tantos, pretendo postar mais hoje, ou quem sabe, apenas amanhã pela manhã, como tem sido de praxe.

PS Os outros comentários foram devidamente lidos e apreciados, os do "Mais do de sempre" eu respondi. Pena não poder responder a todos, por falta de tempo. Mas leio e Edmund também, diversas vezes ao dia. Obrigada.

Outro PS Eventuais reclamações, favor escrever para edbonaparte@gmail.com , os elogios podem mandar para mim: senhoritabutterfly@gmail.com :) , não me enviem reclamações porque eu não resolvo nada por aqui, no máximo mandem para o Edmund com cópia para mim.

Por Interesse

Sempre sinto-me bastante feliz ao ler os comentários que fazem em meus posts. Agradeço sobremaneira o carinho e a cada dia as mensagens têm sido mais e mais simpáticas, até quando meio complicadas de entender. Isso tem feito com que eu me sinta mais à vontade nesta casa e bastante interessada em continuar mesmo quando Edmund voltar à ativa.

Hoje fiquei bastante preocupada ao ler um post do Shigue lá no Patota's:
"Precisamos fazer igual ao Edmund.
Arrumar uma namorada para ajudar cuidar do nosso blog. Tbm estou sem tempo pra mais nada.

Abraços "
Será? Mas será mesmo? Primeiro fiquei desconfiada de que Edmund tivesse insistido para que eu o namorasse por precisar de uma enfermeira 24 horas de graça, mas agora eis que minha compreensão se ilumina: será que Edmund resolveu me namorar só para ter alguém que cuidasse de seu blog igualmente de graça e sem riscos de deletá-lo????? Caso contrário, por que só me pediu em namoro após ler uma redação que eu havia feito na noite anterior??? Era um teste!!!! Sim, um teste para saber se eu estava apta ao cargo de namorada de um Lunático!!! Era tão óbvio! A explicação estava ali diante de meus olhos todo esse tempo e eu, cega... Shigue sabia de tudo, desde o princípio e agora, sem querer, revelou a grande farsa!

Todo mundo diz que não temos absolutamente nada a ver um com o outro (embora eu veja entre nós infinitas afinidades), que não sabe por que estamos juntos, que Edmund precisava de uma pessoa menos "pé no chão" (queriam que meus pés estivesse onde?). Agora entendo tudo!

Sabia que ele estava comigo por interesse! Só não sabia que tipo de interesse, já que financeiramente não ofereço nenhum atrativo. A única coisa que eu realmente tinha a lhe oferecer, além dos medicamentos, era meu talento literário (que eu sequer sabia que tinha, mas ele sabia, de alguma forma ele sabia, ele sempre sabe de tudo).

Mas sabe, no fundo ainda tinha uma esperança de que ele realmente gostasse de mim por aquilo que sou, acima dos cuidados que lhe dedico e do auxílio que lhe presto neste espaço. Infelizmente, descobri tudo. Mas como fui terrivelmente ameaçada pelo Verme e advertida pela Dé nos comentários do post anterior (algo me diz que ela não leu o post inteiro), não poderei terminar com tão calculista criatura. Não falei com ele depois que descobri a verdade, não sei como contarei tudo o que sei, nem qual será sua reação.

Gosto dele. Já disse isso, não? Fora a parte complicada, de lidar com seus dois "eus", com os móveis e o estranho comportamento (que vocês já devem conhecer) aprimorado durante décadas (quase três décadas), o relacionamento tem sido bastante interessante e divirto-me um bocado. Edmund é uma criatura extremamente agradável e um namorado atencioso e carinhoso...pensando bem, é um grande ator, porque agora sei que tudo é por interesse!!! Tudo fingimento. O que farei ?

Mais do de sempre





O grande problema de escrever neste blog é que ninguém acredita em absolutamente nada do que você escreve, ou todos são paranóicos o suficiente para acreditar que tudo o que a gente conta ou cita é alucinação ou eu tenho um estilo de escrever que faz com que qualquer informação pareça história de pescador. Estão me deixando paranóica insistindo nisso.

Continuam achando que eu e o Edmund somos a mesma pessoa ou que eu sou uma outra personalidade do Edmund (o que dá quase na mesma), ou que sou uma "projeção inconsciente" ou, a pior de todas as hipóteses: há quem acredite que eu seja o "lado feminino" do Edmund. Lado feminino???? LADO FEMININO??? Edmund não tem essas coisas não, te garanto. Outro acha que Edmund trocou seus antialucinógenos por progesterona...também não. Impossível, controlo perfeitamente a medicação de Edmund e sei que não houve alteração em seus componentes ativos, nem teria como trocar a medicação, já que não possuo tais hormônios encapsulados nem em minha casa nem na casa do Edmund.

Vamos lá: não sou uma alucinação. Ponto. Não tenho alucinações. Ponto. Não tenho dupla personalidade. Ponto. Três pontos? Não, três pontos são reticências e não quero deixar nenhuma dúvida aqui. Edmund está realmente afastado temporariamente deste blog, até ter uma folguinha do trabalho escravo e de suas atividades imaginárias, que lhe consomem todo o pouco tempo livre. Os móveis de Edmund realmente são decorados com bolinhas amarelas esculpidas em baixo-relevo (diz minha irmã que o que a gente chama de baixo relevo na verdade chama-se alto relevo e vice-versa, o que realmente é estranho demais para que minha cabeça possa compreender, então permaneço nos leigos termos convencionais).

Por que ninguém questionava Edmund e no entanto eu sou tratada como mera alucinação? A maioria me consola como quem não deseja dizer o que pensa para não contrariar o maluco.... daqui a pouco vou começar a acreditar que tudo isso é ilusão, que eu não existo e na verdade faço parte de Edmund, apesar de habitarmos corpos diferentes.... seria romântico e poético, se não fosse fisicamente impossível. (Lembrem-se que sou realista ao extremo)

PS: A pedidos (muitos pedidos), já estou escrevendo a história do nosso encontro, para que vocês saibam como começou, mas quero que fique bem ajeitadinho, portanto devo postar ainda essa semana, sem data marcada, à vista ou em suaves prestações. Aguardem.

PS 2: Thiago, sinceramente, não sei se houve tal explosão no número de acessos desde que comecei a postar. Edmund deu-me a senha do blog, mas não a senha do contador...risos....realmente, não faço idéia. Estou postando no escuro e imagino que seja para uma meia dúzia de leitores. :)