quarta-feira, julho 28, 2004

Trabalho e Vício

Agradeço da lembrança e não, não congelei. O comentário da Karla "Pena que vcs não cumprem a palavra. Vcs escrevem tão bem....." Doeu. Tá, tá, fizemos coisas terríveis, Edmund atrasou o post quase uma semana e em seguida eu faço o mesmo. Adianta dizer que foi coincidência?

Bem, ele passou aqueles dias encrencado por causa do meu post anterior, sobre hibernação (sim, devo tomar mais cuidado com meus próximos textos, para evitar problemas).

Não estranhei muito o sumiço porque é bem comum Edmund desaparecer, passar dias fora e depois reaparecer, com uma história pior que a outra, e sempre precisando de um bom banho.

Não tenho nenhuma história mirabolante para contar, infelizmente. Meu problema nesta semana foi a absoluta falta de tempo.

Fui mandada para um lugar muito arborizado, com muitos patinhos (nenhum horrendo, antes que me perguntem), alguns pavões, uma capivara e suas capivarinhas, ovelhas, peixinhos e um monte de gente.

Por algum tempo fiquei afastada da civilização propriamente dita, passei alguns dias sem ver um mísero computador, estava em processo de desintoxicação.

Como vêem, não adiantou nada. Cá estou eu, novamente em meu vício, digitar desenfreadamente em frente a um computador conectado à internet.

Alguém achou que manter-me longe, junto dos matinhos e de bichinhos bonitinhos me faria esquecer para sempre a net, o teclado, o mouse, o monitor e o gabinete da CPU.

Foi em vão. Enquanto fiquei por lá, escrevia, escondida, longe dos olhos de todos, em um caderno que contrabandeei, sem que ninguém visse (percebam que não existe coisa mais clandestina: o caderno era contrabandeado e eu escrevia escondida, sem que ninguém visse e ainda por cima longe dos olhos de todos...risos...).

Vi algumas pessoas realmente desesperadas, que deveriam ser mantidas longe de cordas, objetos pontiagudos e veículos em movimento. Tais pessoas poderiam, voluntariamente, praticar auto-flagelação (sim, existe quem se auto-flagele involuntariamente).

Sim, vi coisas terríveis. Desde pessoas que gritavam, em profunda histeria, até quem digitasse o nada em coisa alguma, enlouquecidamente, dedilhando o ar.

Estava tranquila, via Edmund no horário de visita e ele me disse que não escreveria aqui enquanto eu não voltasse. Obviamente ninguém o ouviu dizer tal absurdo, senão o acusariam de estar me estimulando a voltar ao vício e atrapalhando todo o tratamento.

Durante todo o tempo que passei por lá só pensava em voltar e escrever. Angustiei-me porque deixei muitas coisas a fazer no computador, e sabia que estava perdendo tempo.

Uma das piores sensações que já provei é a de saber que existe algo a ser feito enquanto se faz outra coisa que te impede de fazer aquela coisa que você sabe que deveria ser feita naquele exato momento. É terrível.

Resisti, porém, bravamente e até fiz amizade com alguns internos e outros, externos, também.

Não revelo o nome de quem me internou, mesmo porque sei que essa pessoa fez tal tenebrosa coisa para o meu bem e não merece ser linchada. Acredito que ela não leia este blog, ou então estaria incorrendo no mesmo "erro" que acha que estou.

O problema é que a criatura aparentemente humana te vê o dia inteiro em frente a uma tela brilhante, com os olhos fixos e os dedos batendo aceleradamente em uma superfície cheia de teclinhas e supõe, erroneamente, que você não está fazendo nada.

Por quê? Porque ela não consegue ver o que você está fazendo (aliás, geralmente você nem deixa), não enxerga seu cérebro trabalhando (se ela começar a enxergar, preocupe-se) e deduz que, já que ela não vê nada, significa que você também nada faz ali.

Se você passasse o dia inteiro (ou duas horas que fossem) carregando pedras, com uma lista telefônica na cabeça, recortando figuras de uma revista com os pés, ela veria, tranquilizada, que você está fazendo alguma coisa.

Não há mesmo resultado imediato de um trabalho virtual, a menos que me deixem imprimir primeiro, antes de julgar-me culpada e lançar-me ao calabouço.

Já temos anos o suficiente de informatização para familiarizar nosso cérebro com a nova realidade, mas infelizmente nem todo mundo conseguiu atingir esse grau de evolução ainda.

Trabalho é trabalho, braçal, mental ou virtual, ainda que não saia embalado, rotulado e com lacre de segurança no final da linha de produção.

E se não for trabalho...ei, claro que é trabalho! Mesmo porque ninguém está vendo, quem pode provar que não é? :)

PS: Lillian, vejo se te mando um e-mail hoje, respondendo à tua pergunta. Se não der hoje, certamente amanhã pela manhã.


quinta-feira, julho 15, 2004

Glacialidade


Os sapos escavam a terra com as patas traseiras, fazendo as cavernas nas quais hibernam durante o inverno. Acordam cedo, porque primavera é período de acasalamento. Os ovos, depois, são colocados em fileiras imensas, algumas atingem cerca de cinco metros de comprimento. Dez dias depois, nascem os girinos. Após as já conhecidas metamorfoses (cresce patinha, perde cauda, etc, etc, etc), transformam-se em vários sapinhos que hibernarão durante o inverno.

Ursos são atletas, andam quilômetros sem se cansar, são exímios nadadores e algumas espécies (não todas) hibernam durante o inverno. A temperatura corporal dos répteis varia de acordo com a do ambiente, por não serem eles animais de sangue quente. Por isso, não são numerosos nos locais de clima frio, onde hibernam durante o inverno.

Lesmas e caramujos hibernam, no inverno, mas também não gostam de sol escaldante. Os ovos do mosquito da dengue, Aedes aegypti, são preguiçosos, hibernam durante o inverno e primavera e só eclodem no verão. Besouros Carocha adultos hibernam durante o inverno, depositam ovos na primavera e costumam viver muitos anos.

Besouros, sapos, mosquitos, lesmas, ursos, crocodilos e tartarugas, cobras e lagartos, entre outras espécies, hibernam durante o inverno. Na natureza, a espécie Josephinium Butterflyae também hiberna durante o inverno, mas em cativeiro, passa o dia acordada e tremendo de frio.

Por que os seres humanos também não hibernam no inverno?? Tudo bem, têm sangue quente, mas não têm nenhum isolamento térmico natural que funcione. Os ursos, por exemplo, são caras enormes, gordos (camada adiposa serve como revestimento de isolamento térmico) e cheios de pêlos (casaco de pele natural) e, mesmo assim, hibernam no inverno. Ursos é que são inteligentes.

Se hibernássemos durante o inverno, viveríamos mais, isto é fato. Conversando sobre isso com Edmund dia desses, ele levantou uma questão interessante. Se as pessoas dos lugares frios hibernassem, certamente as pessoas dos lugares quentes viriam e roubariam tudo o que as pessoas hibernantes tinham e seria o caos.

Não pensei nisso antes, mas todas as pessoas hibernariam no inverno, certo? Se as pessoas que, enquanto nós, por exemplo, estivéssemos no inverno, estivessem em um hemisfério em que é verão quisessem nos roubar em nosso inverno, hibernariam no exato instante em que entrassem em nossas terras.

Porque aqui seria inverno. E todas as pessoas seriam automaticamente programadas para hibernar no inverno. Algumas nem chegariam, já hibernando no meio do caminho. Entrar em nosso espaço aéreo faria qualquer piloto de avião ou helicóptero hibernar e, assim, a aeronave seria controlada por piloto automático, a fim de não esborrachar-se no chão. Os barcos ficariam à deriva, com todos os seus ocupantes hibernando.

Maaas....e os gatos, cachorros e outros seres que criamos em nossas casas e que não estão na lista das criaturas hibernantes?? Bem, teríamos que modificá-los geneticamente para que hibernassem durante o inverno conosco, senão tomariam conta das cidades, comeriam nossa comida, virariam nossa casa de cabeça para baixo e, os mais dependentes, morreriam de fome, sede e frio. O que seria terrível.

Mas animais domésticos transgênicos hibernariam conosco durante todo o inverno, sem problema. Aliás, vou testar minha teoria. Deitar um pouco e entrar em breve período de hibernação, por algumas horas. O resultado, imagino, será benéfico. Espero que faça bem à pele...embora isso não aconteça com os lagartos e tartarugas. Nem com as lesmas. Mas os besouros Carocha, embora sejam feios, vivem bastante. Não me olhe assim, ao menos é uma vantagem.


segunda-feira, julho 12, 2004

Nota

Alguém me jogou aqui, dizendo que eu sabia escrever, sabendo das inúmeras meia dúzia de coisas que tenho a fazer durante o dia e que me impedem de escrever tanto quanto eu gostaria, ou deveria, neste lugar.

Alguém me disse que eu era alguma coisa, que eu podia tudo, que, se eu quisesse, faria qualquer coisa. Nunca soube ao certo se deveria acreditar.

Alguém me assegurou que se eu acreditasse, aconteceria. Bom ou ruim, qualquer coisa que mereça nossa certeza acontece. Sim, pude constatar. Com as coisas ruins, na maior parte das vezes, porque a gente tem uma dificuldade terrível em acreditar nas coisas boas antes que elas aconteçam.

Alguém me avisou que não deveria comer tanto doce, e me deu quinhentas razões para isso. Até um livro já escreveram, contando dos males que o açúcar faz ao organismo.

Alguém também me disse que o cérebro alimenta-se de glicose :)

Alguém me recriminou por deixar tudo pela metade, por escrever demais sobre mim, por me expôr demais onde nem eu mesma sei quem está vendo, ou ouvindo, ou espionando....

Alguém me chamou para dizer como eu deveria me vestir, agir ou pensar, e me disse que eu estava fazendo errado por fazer como eu queria.

Alguém me disse que escrevo mal, contrariando aquele alguém do início do texto que me jogou aqui dizendo que eu sabia escrever.

Alguém falou que eu não deveria estar aqui, porque não combino com este lugar, porque não faço ninguém rir, porque sou Josephine demais para este Diário Alucinado. Josephine não alucina.

Alguém me descreveu de uma forma que eu jamais poderia imaginar, dizendo que escrevo de um jeito que faz com que ele se divirta como há muito tempo não fazia. O que me fez olhar de outra forma para este espaço e me sentir, pela primeira vez, merecedora deste lugar.

Alguém me fez pensar. Ficar mais um pouco, escrever, insistir. É difícil, mas não é certo desistir de nada, principalmente do que não nos julgamos capazes de fazer.

Alguém me olha, meio de lado, sorri e diz que não sei de nada. Não sei de nada mesmo, nunca soube. Sento nesta cadeira e escrevo. Nunca sei o que escrever antes de começar o texto. Não aqui.

Alguém me espera, cansado, triste, imaginando que eu quero manter-me longe. Nem sabe que só quero ficar um pouco comigo, bater os dedos nestas teclas, no frio, esperando que um pouco dessas linhas me aqueça.

Não aquecem.

Linhas não aquecem ninguém.

E está frio hoje, muito frio.

Paro um pouco. O dia deveria ter mais, no mínimo, umas seis horas. Eu precisaria delas. Seriam muito úteis.

Não sei mesmo. De nada. Nem mesmo se eu deveria publicar essa minha declaração de ignorância. Josephine é ignorante. Todos nós somos. Pobre daquele que acha que sabe alguma coisa desta vida.

Porque ela passa.

Alguém me avisa que este texto está muito para baixo. Não acho. A vida passa mesmo e a gente tem que saber disso para fazer com que ela valha a pena, para não perder tempo com bobagens, para não ficar querendo morrer antes da hora.

Alguém pode até pensar que é fácil dizer e que Josephine não sabe nada da vida. Não da minha vida. E Alguém sabe?

Alguém sabe quem sou? O que penso? O que vivo? Alguém sabe o que espero? Pelo que luto? O que quero? Alguém sabe algo nesta vida? Alguém sabe de mim? De você?

Insisto, porque sou teimosa. Luto, porque de nada adianta ver o tempo passar adiante e nada acontecer. Ver o lado ruim das coisas quando tantas coisas boas existem, até mesmo no que é ruim.

A vida é cheia de coisas brilhantes pelo caminho. Pequenas coisas, interessantes, que se transformam em coisas magníficas quando olhamos para elas ou em trastes insignificantes quando insistimos em olhar para os espinhos e para as pedras do caminho, caminhos cheios de pedras.

E eu paro. Porque alguém me avisa que este texto está muito estranho. Concordo.

Alguém me pede para não revisar, senão não posto nada hoje. Vai assim, como está. Concordo.

Vai. Assim, como está.

PS: Esta difícil logar no haloscan para responder os comentários. Preciso dormir (está friiiio), amanhã faço isso. Só um aviso a MpassosT: esteja à vontade para linkar o Diário em seu blog, sem dúvida alguma.

E boas vindas aos novos leitores. Aos que não comentam (por que raios não comentam?) e aos que se apresentam, como o Azrael. E para que nossos leitores comentantes habituais não se sintam rejeitados, um abraço a vocês :). Respeitoso, como sempre.


sexta-feira, julho 09, 2004

Para Entenderem Melhor Edmund. Ou não.

O texto de hoje não é bem um texto. Ou talvez seja, claro, mas não um texto literário, embora eu nem saiba se o que eu faço aqui pode ser considerado literatura. O que quero fazer é explicar algumas coisas.

Claro, Josephine tem essa de achar que ninguém sabe nada e que precisa ficar explicando coisas óbvias a todo mundo, mas quero explicar- também- que eu mesma não sei algumas coisas e enquanto explico para vocês explico para mim também, principalmente.

Cheguei a comentar no outro post que responderia aos comments dos posts de Edmund, achei que, já que eu fazia isso com os meus, ele também deveria fazer com os dele. Mas Edmund vive em um mundo muito diferente do meu. Lê os comentários, gosta deles, faz reload de cinco em cinco minutos para ver se comentaram de novo, mas simplesmente não consegue respondê-los. Por quê?

Bem, acho, quando senta para responder alguma coisa (como fez com o comentário do Cal em seu scrapbook, no Orkut) passa tanto tempo escolhendo palavras, arrumando e reorganizando para que estejam na ordem extrema de perfeição que se ele fosse fazer isso com todos os comentários, provavelmente desmaiaria de exaustão ao terceiro respondido.

Aí Josephine vem com um problema grave. Fiquei mesmo preocupada. E se os leitores, sentindo-se abandonados por não obterem resposta de Edmund, só comentarem os posts de Josephine?? E se ignorarem os textos de Edmund e começarem a responder apenas os de Josephine porque ela responde comentários? Josephine ficaria muito chateada com isso.

Porque o blog é de Edmund, porque os textos dele são ótimos e porque se ele ficar sem feed-back temo que se sinta desestimulado e me largue sozinha aqui de novo, finalmente agora que os textos estão diários e que está tudo tão legal. Josephine ficou traumatizada.

Por outro lado, ele ficará extremamente bravo por este meu texto de hoje (embora eu nunca tenha visto Edmund extremamente bravo por coisa alguma, mas confesso que tento), já que parece que estou implorando comentários para ele. Mentira, estou apenas conversando com vocês, explicando que devem ter paciência, porque Edmund vive mesmo em outra esfera.

Gosta do que escrevem, gosta de escrever, faz textos absurdos de forma tão bem-feita que a gente consegue até acreditar neles, por mais inverossímeis que sejam. Alguns, que você achou absurdo, são absolutamente reais. Claro, o último, acho, é pura ficção. Aquele dos joanetes, do dia 29, também, acho que não foi para valer. Maaas...

Ele gravou o hino da proclamação da república em mp3 (acreditem em mim) em meu computador e no dele, e ouve repetidas vezes, à exaustão, como confessou no texto do dia cinco deste mês. Também colocou fogo em uma árvore durante a infância, conforme o texto A Descoberta do Fogo detalha.

Na verdade, todos os capítulos de A História de um Lunático são reais. De resto, fora o tal "Caldo de Insônia", que duvido muito ter sido feito com os ingredientes relatados por ele (apesar de eu achar que ele acredita que foi real), acho que só as fábulas não são totalmente reais. Se bem que temo que ele fique chocado ao ler isso que escrevi.

Às vezes acho que ele mesmo acredita em suas histórias e gostaria de saber, como bem lembrado pela Heiter, o porquê de todos os seus personagens morrerem ao final das fábulas. Acho que só quem não morreu foi o homem-borracha, mas porque era de borracha, afinal de contas, tentou suicídio jogando-se do alto de um prédio. Felizmente sobreviveu para contar a história, embora não tenha sido ele o responsável por contar a história, senão este seria O Diário do Homem-Borracha. E posso lhes garantir que elasticidade é algo escasso em Edmund.

Enquanto Josephine é quase uma contorcionista, o pobre Edmund mal consegue cruzar as duas pernas ou fazer o abdominal preferido de Josephine: deitada de barriga para cima, ergue as duas pernas (retas) até que formem com o tronco um ângulo de noventa graus. Josephine mantém a posição até quando aguenta...risos...aí abaixa as pernas, lentamente.

Aprendi com a minha mãe, ela fazia isso com uma facilidade tão grande que eu não conseguia entender o porquê de não conseguir. Fazia isso, segundo ela, "para descansar as pernas". Eu fazia para cansá-las mesmo. Pobres músculos abdominais, também ficam em frangalhos. Mas o grande negócio é não desistir. Um dia você consegue. E não flexione as pernas. :)

Edmund, quando criança, frustrou seu pobre pai, que sonhara em ter um filho homem com quem pudesse jogar futebol e passar as tardes de sábado em casa, em frente à TV, assistindo ao jogo do Internacional, ou de qualquer outro time que não fosse o Grêmio.

Edmund até tentou, mas nunca se deu bem com nenhum esporte convencional, o jeito era apostar nos esportes radicais, foi jogar xadrez. Como enxadrista era perfeito! Nunca mais ninguém riu dele em competições esportivas, já que ganhava de todos.

Josephine, coitada, sempre amou jogar xadrez (assim como vôlei, handball, natação, ballet- nunca "joguei ballet", entenda bem- e, principalmente, basquete), mas nunca conseguiu ter concentração para isso.

Edmund é neurótico, perfeccionista, alucinadamente concentrado quando lhe convém. Nunca tive essa sorte. Desligada demais, qualquer energúmeno ganhava de mim no xadrez (e não foram poucos os energúmenos que ganharam) e -pior- eu via exatamente qual era o meu erro estratégico. Ou melhor, de falta de estratégia. Nunca fui boa estrategista.

Na escola sempre fiquei longe do submundo do xadrez, os enxadristas (ou xadrezistas...risos...) eram super ágeis, mentes rápidas e me assustavam. Meus colegas achavam que xadrez era apenas sinônimo de cadeia e não conheciam o jogo. Meus irmãos cresceram e tinham mais o que fazer do que jogar xadrez com a pirralha. Não vejo uma torre e um cavalo (do jogo, por favor) há uns dez anos, mais ou menos. Jogarei novamente com Edmund. Depois conto se perdi ou se fui alçada ao posto de zebra vencedora do ano. Nunca se sabe.

Alguém me perguntou, dia desses (ou antes que me perguntem) o porquê de eu colocar o "F" maiúsculo em ButterFly. Bem, é que alguns lêem como Butterfly (Borboleta) e outros como Buttered Fly (Mosca amanteigada), outros ainda como Flying Butter (manteiga voadora) ou ainda como Butter, Fly! (Manteiga, voe!) Não quero tolher a criatividade de ninguém. Para ninguém me chamar de maluca, provo.

O link existente neste blog que aponta para cá, diz: ":Diário de um lunático: Textos alucinados e deliciosos escritos por um lunático e uma borboleta (ou será uma manteiga voadora?). " Nem eu mesma sei, cara Larissa. Detalhe que a coluna de links dela escorregou e caiu ao pé da página, abaixo dos posts. Mas está lá. Até que ela arrume novamente.

E...respostas dos comentários ao meu último texto, nos próprios comentários. Descobri a América.


quarta-feira, julho 07, 2004

A Criminosa e o Mercado Clandestino

Faz algum tempo que não vou a uma biblioteca. Nada contra, foi falta de tempo mesmo. De vez em quando tinha o hábito de ir a uma livraria, sentar e ler um livro qualquer, mas confesso que me sinto muito mal com isso, como se estivesse lesando alguém.

Afinal de contas, ler o livro de alguém, gostar e não recompensá-lo financeiramente pelo trabalho de escrever aquilo é, no mínimo, cruel. É o que penso em relação às bibliotecas públicas, por exemplo. Só me sinto redimida desse delito quando realmente não tenho dinheiro para comprar nada. Aí incluo-me entre a população carente e, carente de novas idéias, pego emprestado o trabalho de alguém e passo a tarde lendo atentamente sentada à mesa de algum desses lugares.

Mas quando tenho condições de comprar aquele punhado de páginas encadernadas, prefiro fazê-lo. Mas não sem antes dar uma olhada e ver se a literatura em questão é autêntica ou se trata-se de folhas impressas, capa colorida e conteúdo zero. Já fui enganada antes, levando lebre por gato, hoje em dia prefiro cercar-me de todas as garantias e levar para casa o gato literário que escolhi.

Ainda assim sinto-me uma criminosa. Pegar um livro emprestado de alguém, por exemplo. O pobre escritor acha que vendeu apenas vinte cópias, mas mal sabe que aquelas vinte cópias na verdade estão circulando entre duzentos indivíduos que, em grupos de dez, emprestam e reemprestam um livro seu, para que os colegas leiam. E ninguém compra.

Se gostou, prestigie, penso. A melhor maneira de mostrar a alguém que sua estima é, segundo a lógica capitalista, oferecer-lhe um presente. Eu imagino que o melhor presente para um escritor é ver que seus livros estão vendendo bem. Então prefiro ser um número, fazê-lo saber que vendeu quinhentos e dois livros, ao invés de quinhentos e um, deve ser importante.

E quanto às lojas de livros usados (Josephine é fresca e detesta chamar algo tão interessante quanto "loja de livros usados" de "sebo") ? Sempre gostei delas, mas me parecem mercado clandestino. Não sei como funciona isso, mas duvido que os autores recebam duas vezes por exemplar. É uma e "deu pra bola", como diz o Edmund. Me parece mesmo mercado negro.

E não tenho vergonha de dizer que muitas vezes recorri a este obscuro mercado, seja em escambo, compra ou venda. Esta última é terrível, mas as outras duas, fora o sentimento de culpa, são recompensadoras. A maioria dos livros que tenho foram conseguidos em uma dessas famigeradas lojas.

Claro, livros em lojas de usados são infinitamente mais baratos, mas às vezes prefiro pagar mais para ter minha consciência limpa, sabendo que estou ajudando um pobre escritor carente que, na maior parte das vezes, tem família para sustentar, apesar de não viver exclusivamente da venda de livros, a menos que seja um consagrado escritor. Aí certamente sou mais pobre e carente do que ele e ele não se importaria em me ver comprando seu livro de segunda, terceira, quinta ou vigésima mão.

Algumas lojas de usados são bonitinhas, arrumadinhas, com cara de livraria. Mas a maioria, ao menos aqui, tem aquele aspecto sujo, de festa dos ácaros, livros misturados, mal arrumados, ambiente escuro e sinistro, vendedores mais sinistros ainda, que te perseguem por toda a loja, como todo bom vendedor sinistro deve fazer para apavorar o possível cliente.

Por isso aposto no mercado negro. Acredito que haja uma espécie de tráfico de livros usados, eles são comprados a preços ridículos (e quando digo ridículo, leia ridículo mesmo, se te pagarem cinco Reais por dez livros, fique feliz.), os vestígios do antigo dono são apagados e depois são colocados nas prateleiras por um preço inferior ao novo, mas duzentas vezes superior ao pago. A única diferença entre este e o mercado clandestino de automóveis, por exemplo, é que os livros são vendidos pelos próprios donos (na maioria das vezes) e os carros, por receptadores de veículos roubados.

Sim, livros estão caros demais, eu sei, e eu mesma frequentemente recorro a esses expedientes para aumentar a biblioteca e conseguir algo útil para ler, gastando menos, mas se o troço é bom, mas bom mesmo, junto o dinheiro que for e pago.

Os escritores não acham ruim, alguém vai me dizer, porque ao menos o trabalho deles está chegando às mãos de alguém e é isso o que importa. Tudo bem, tudo bem, pode ser, em uma visão romântica da coisa. Não sou escritora, não sei de nada, mas esse argumento me parece aquele do Edmund, dizendo que as tatuíras nasceram para ser pisoteadas e adoram a idéia. Não sei. Pode ser. Ou não.

Também existem aqueles livros que a gente não encontra em livraria nenhuma, mas acha em lojas de usados, porque algum pobre coitado, em dificuldades financeiras, foi obrigado a desfazer-se deles. Sempre que compro um livro usado não consigo deixar de pensar em quem o vendeu. Por quantas mãos passou? Por que foi parar naquela prateleira? Problemas financeiros? A pessoa não gostou do livro? Ou gostou tanto que voltou lá para trocar por outro e disponibilizar novamente para venda, para que assim alguém consiga obter aquele mesmo prazer novamente?

Aqui começa a melhorar a imagem dessas lojas. Ou desses livros, sei lá. O componente histórico que sua simples existência dentro daquele lugar carrega é tão ou mais intrigante do que a própria história contida em suas páginas. Compro um livro e trato de investigar, procurando em suas folhas algum resquício de registro humano, como, por exemplo, frases sublinhadas ou alguma nota de rodapé. Por que raios aquela pessoa, seja lá quem for, gostou daquele trecho específico?

E lá vai Josephine fazer um livro dentro do livro, uma história além da história, checando páginas e delirando sobre suposições que jamais poderão ser comprovadas. Eu me divirto com isso. Tanto quanto me divirto lendo. Ou escrevendo. Na verdade são diferentes aspectos de um mesmo processo: ler, imaginar, criar, escrever. Viagens da alma, através do próprio corpo, dos sentidos, da mente. Sem que seja necessário tomar nada, fazer nada além de mergulhar em letras. Literalmente.


PS: Oi :) O plantão Josephínico informa: além de nos revezarmos nos textos, a partir de hoje este blog volta a honrar seu nome e ser diário. Isto é, se é que é necessário explicar o termo, amanhã teremos novo texto de Edmund, sexta-feira novo texto meu, sábado novo texto de Edmund, domingo novo texto meu e assim por diante. Finalmente, chegou o dia! Colaborem vindo ler diariamente, não de cinco em cinco dias como os acostumei a fazer...risos...

PS2 Aliás, sobre meu último post, Daniele, você está perdoada, desde que tal coisa abominável jamais se repita...risos... e as respostas aos comments estão na própria caixa de comments do meu último post. Aliás, caso Edmund não tenha tempo de responder aos comentários dos textos dele, eu mesma respondo, será que posso? Não, não, assim vou acostumá-lo mal. Deixe que ele responda mesmo.

Flip-Flop diz que preferia o template claro. Alguns dos nossos leitores já demonstraram preferência pelo layout preto. Se quiser dar sua opinião, esteja à vontade, gostaríamos de saber. Edmund teve a brilhante idéia de fazer um blog-clone, o mesmo Diário, com os mesmos posts, mas com o template de outra cor. Seriam dois blogs, um branco e um preto, a escolher. Aí dei a dose diária de antialucinógenos e ele esqueceu a brilhante idéia.

A propósito, Leila, as duas caixas de comentários estão aí porque de vez em quando uma das duas não funciona. Aí sobra a outra e a gente não fica sem comments por problemas técnicos. Claro que sempre há a possibilidade de as duas falharem ao mesmo tempo, mas, convenhamos, é mais remota.

Outro PS Alguém, por favor, faça Edmund parar de assobiar "Für Elise", fez isso o dia todo e agora começou denovo, enquanto escrevo, ele assobia, em outro cômodo....ok, parou e começou a assobiar "Chega de Saudade".....

sábado, julho 03, 2004

Contos Josephínicos- Josephine, A Pequena e Edmund, O Grande

Há muitos e muitos e infinitos e incontáveis anos, em uma época em que despóticos imperadores subjugavam seus semelhantes e a desigualdade social era ainda mais gritante do que em nossos dias, havia um benevolente imperador que destacava-se de seus sucessores e predecessores por seu coração altruísta.

Obviamente a paz não reinou por muito tempo durante os anos deste bom imperador, afinal de contas, ninguém respeita os bons, ninguém consegue respeitar e obedecer a um superior que considera, ouve, respeita e ajuda seus subordinados. Ao menos naquela época era assim.

O imperador, Edmund, O Grande, teria que ausentar-se por um tempo para participar de um congresso de imperadores em uma terra ainda mais distante. O caos ameaçava instaurar-se, ninguém havia ali que pudesse assumir o trono e controlar a situação.

Já há muito tempo os conselheiros aconselhavam (porque era esse seu trabalho) Edmund, O Grande, a arranjar uma esposa e naquele momento o assunto voltou à baila. -Se tivésseis uma esposa - diziam eles - não teríeis este problema, ela sentaria em um trono ao vosso lado e colocaria ordem no reino.

Porém, Edmund, O Grande, não conhecia nenhuma grande mulher para fazer-lhe companhia. Seus conselheiros então buscaram as maiores mulheres do reino para que o imperador escolhesse.

Uma a uma elas passaram por diversos testes e, por fim, uma entrevista com o ingênuo imperador e seu mais sábio conselheiro. Algumas até conseguiam enrolar o imperador (o que, convenhamos, não era lá muito difícil), mas o Conselheiro logo as dispersava, mostrando ao imperador que lhe trariam mais problemas do que soluções.

Por fim, nenhuma mulher mais havia para ser testada, todas haviam sido reprovadas e o imperador, desanimado, já pensava em demitir o tal conselheiro, parecia exigente demais. O Conselheiro, no entanto, perguntou ao imperador se mais nenhuma outra moça havia que lhe despertasse a atenção.

- Nenhuma. - O soberano respondeu.

O sábio Conselheiro tomo-o pela mão e passou por todos os cômodos do castelo mostrando-lhe uma a uma as pessoas que ali trabalhavam.

-Está vendo aquele rapaz, imperador?
- Sim, senhor Conselheiro.
- Já o conhecia?
- Não, nunca o tinha visto.
- Pois bem, ele lhe serve há vinte anos, desde seus oito anos, cuidando de seus sapatos, dia após dia. Ele, certamente, conhece o senhor. E aquela senhora, conhece?
- Não, senhor, jamais a vi.
- Pois bem, ela prepara, todas as manhãs, há trinta anos, o pavê que o senhor tanto gosta de comer ao acordar.

O imperador estava envergonhado, como podia ser? Gabava-se de conhecer todos os criados de seu palácio, mas não se dera conta de que eram tantos e que passava por boa parte deles diariamente sem notar. Até que, algum tempo depois, o imperador, já mais esperto, notou uma menina de longos cabelos cacheados ligeiramente acobreados, sentada sob a escada.

- E aquela moça? Quem é?
- Aquela é a pequena Josephine, vive aqui há muito tempo e já estava aí, debaixo da escada enquanto o senhor se decidia entre as moças.
- Ela estava aqui o tempo todo? - espantou-se ele.
- Muito mais do que o tempo todo, ela chegou aqui antes de todas elas, e o senhor não a viu.
- Chame-a à minha presença.

Claro, o imperador só mandou chamar Josephine por causa de sua bela aparência, mas o Conselheiro, que já a conhecia, sabia que a moça era dotada de uma sabedoria fora do comum e que era a única capaz de colocar ordem na bagunça em que a vida do tirano se transformara.

Claro, ele sempre soube disso, mas não podia falar antes ao imperador, dependia do imperador tomar a decisão, dar os passos, fazer as escolhas, ver o que era errado até encontrar o certo. Quando ele resolveu ouvir o Conselheiro, este lhe revelou o segredo: tudo o que ele precisava estava ali, diante de seus olhos, o tempo todo, mas ele nunca quis enxergar.

Bem, antes tarde do que nunca. A pequena Josephine passou em todos os testes do Conselheiro e se saiu muito bem na entrevista com o imperador que, apaixonado, decidiu juntar suas trouxinhas reais com as plebéias trouxinhas de Josephine (tudo oficialmente, é claro) e daquele momento em diante, sob o pulso forte de Josephine, a Pequena, todo o reino voltou a ter paz e todos, sem exceção, viveram felizes para sempre.

PS: Vamos aos fatos: O imperador era grande, mais ou menos 1,86m, Josephine era pequena, com seus arredondados 1,70m, mas ela seria grande se o imperador tivesse 1,67m, por exemplo. Tudo é questão de ponto de vista, sempre.

PS2 Comentários em meu último post foram respondidos na própria caixa de comentários, para poupar espaço. Combinado com Edmund, faremos revezamento de posts (Finalmenteeee!!!).

Essa carinha aí em cima é para especificar quem está escrevendo, antes do texto, há sempre o nome do indivíduo no final, mas ainda tem gente que se confunde. Não sei se continuarei com esse desenho, a princípio, sim, até fazer um melhor.

O próximo a postar será ele. Leiam, reflitam, comentem, aproveitem, tanto os meus textos como os dele. Nem precisava dizer isso, mas, como sabem, sou insegura e preciso ficar lembrando a todos que devem nos dar uma atençãozinha básica.

E sou exigente, gosto que comentem se leram todo o texto. Comentar sem ler e ler sem comentar são duas coisas terrivelmente abomináveis. Como saberei se leram, caso comentem? Bem, terei que acreditar nos leitores.

Como saberei que não leram? Bem, sempre imagino que, se não comentam, não leram, embora eu mesma faça isso (ler sem comentar) em diversos blogs que visito. Mas a partir de hoje me obrigarei a comentar sempre que ler. Fazendo com os outros o que gostaria que fizessem com a gente. E antes que alguma Góia diga isso, é, eu sou chata mesmo. Mas amo vocês. :) Respeitosos abraços.