domingo, maio 30, 2004

Explicações

Pensar antes de escrever as coisas. Quantas vezes terei de escrever isso em uma folha de caderno, como punição por falar demais? Minha mãe sempre me dizia "Josephine, quem fala demais dá bom-dia a cavalo"...

Pois é, andei cumprimentando uma infinidade de eqüinos com o post anterior, que fiz às pressas, de um computador público, com o único objetivo de dar sinal de vida. Aprendi que é melhor fingir-se de morta quando não se tem tempo para elaborar algo melhor. Não lhes culpo, eu deveria ter sido mais explícita.

Não terminamos, Edmund e eu, simplesmente disse que não estávamos mais juntos e não estávamos mesmo, ele havia sumido, como faz com frequência, passou dias vagando pela cidade e eu não consegui encontrá-lo.

Depois, quando voltou, briguei com ele (asseguro-lhes que é necessária uma força de vontade incrível para fazer isso, já que Edmund não briga com ninguém e eu acabo tendo que brigar sozinha) e ele ficou triste, alegando que naquele lamentável estado de espírito não conseguria escrever.

Edmund era imonitorável, mas eu me vali da tecnologia moderna e equipei-o com um celular, para melhor rastreá-lo. Ocorre que naquele dia o celular ficou em casa e Edmund não.

Sinceramente pensei que nunca mais o encontraria, imaginando que tivesse sido sequestrado por uma horda de Góias ou que nem se importava mais comigo, afinal de contas, se se importasse teria ao menos me telefonado, para avisar que estava vivo e bem.

A bem da verdade, ele me telefonou, mas desligou assim que atendi. Me explicou depois que não faria sentido algum telefonar para avisar que estava vivo e bem.

- Apenas o fato de eu telefonar já prova que estou vivo e bem, já que um indivíduo que esteja morto e mal jamais poderia empreender tal tarefa.
- É, mas como é que eu poderia supor que o indivíduo vivo e bem do outro lado da linha era você?
- Bem...é...esse é um ponto no qual eu não tinha pensado. Bem, preciso pensar. É, tem razão, fugiu-me este detalhe.

"Detalhes" como este frequentemente fogem de Edmund e eu fico cá a ver navios. Talvez a única solução seja grudar em Edmund o dia inteiro, 24 horas por dia, seguí-lo até os recônditos mais secretos e descobrir o que ele tanto faz quando se perde. Mas temo não sobreviver a isso. No entanto, é minha obrigação tentar. Acho.

PS: Finalmente, conexão.

Vanessa, você está certa, este blog perdeu o rumo. Prometo encontrá-lo em breve. Continuamos procurando e contamos com a ajuda de vocês. Na verdade eu também perdi o rumo. Edmund também. Quem encontrar algum dos nossos rumos, favor enviar para josephinebutterfly@gmail.com ou edbonaparte@gmail.com Em todo caso, prometo que, ainda que não tenha rumo, este blog voltará a ter prumo a partir de hoje. Desculpem o transtorno. Bendita conexão. Respeitosos abraços.

segunda-feira, maio 24, 2004

Ainda tem alguém aqui...i....i....i...i...i..... ????
Alguém ainda vem a este blog....og....og.....og.....og...... ???
Nem para ler, nem para escrever...er....er....er....er....er...???
Onde estará Edmund.....Edmund....Edmund....Edmund....???

Bem, não estamos mais juntos. Calma, calma, calma, não se desesperem, isso não é definitivo, a bem da verdade, nada nesta vida é realmente definitivo, exceto as coisas realmente definitivas. Mas como Edmund não se pronunciou a respeito ainda, prefiro não falar nada por enquanto.

Ele diz que está triste demais para escrever e virou suco com tanta intensidade que nem deu para digitar nada. Espero mais um pouco. A literatura, lhes asseguro, continua.

terça-feira, maio 18, 2004

Duas coisas. Primeiro, Josephine é horrível. Sinto-me um lixo por deixá-los tantos dias falando sozinhos. Terrível. Segundo...bem, fiquei feliz ao notar que sentiram a minha falta e exigiram minha presença de volta (ou de qualquer outra pessoa que se dignasse a escrever neste blog). Finalmente alguém notou minha ausência :)

Não que eu tenha desaparecido de propósito, mas forças maiores me deixaram sem conexão e temporariamente sem computador. Até tentei, mas nessas condições me pareceu bem difícil postar algo por aqui. Escrevi em uma folha de papel, mas até agora não consegui descobrir uma forma de passar o tal texo para o blog sem computador e conexão, mas creio que algum sucesso estou tendo nesta empreitada, só pelo fato de conseguir escrever algo aqui hoje sem ter um computador em casa.

Esperança, a minha é eterna, pensei que talvez Edmund aparecesse por aqui para explicar o que aconteceu comigo e o porquê de eu estar desconectada temporariamente. Obviamente Edmund nem mesmo percebeu que não apareci por aqui, talvez ele tenha tido alguma alucinação, talvez alucinações diárias, imaginando ler um texto meu por dia, como costumava ser normal. Ruim, muito ruim.

Não o vi hoje o dia inteiro, não sei onde se meteu, espero que esteja bem longe de qualquer encrenca, cansa-me salvá-lo das enrascadas em que se mete. Acabo de descobrir porque este alucinado indivíduo manteve-se tanto tempo sem maluca alguma do seu lado.

Ok, Góias sempre existiram, aos montes, algumas deixaram registro neste blog, em comentários, para a posteridade, mas não houve uma pirada o suficiente para assumir um relacionamento decente com esse rapaz e estar ao lado dele, em todas as situações.

Tá, ia continuar o texto, mas o dever me chama e devo atendê-lo. Conversamos mais tarde, prometo. Sim, há ainda alguém na casa verde...embora a minha seja branca e azul. :) Beijos a todos!!!!

segunda-feira, maio 10, 2004

Empanturramento Colonial

Fomos a Gramado hoje, almoçamos café colonial. Eu, comendo como se nunca tivesse visto comida na vida, daquele jeito que só eu sei fazer (mentira, um monte de gente sabe também), de achar que o mundo vai acabar amanhã e que eu tenho que fazer quinhentas mil coisas hoje, comer quinhentas mil coisas agora, antes que o mundo acabe, antes que eu acabe, antes que a fome acabe.

Gente cruel daquele lugar. Quando finalmente nos livramos dos dois pedaços de bolo de cenoura, o garçom, para nos punir, veio com outro prato, desta vez com três pedaços de bolo de cenoura. Havia também dois pedacinhos de rocambole de brigadeiro, muito bom. Edmund comeu um e me avisou que estava gostoso, eu, empanturrando-me de bolo de cenoura, perguntei a ele se acaso não queria o outro pedaço de rocambole. Ele disse um não meio por educação e eu perguntei novamente:
-Quer o rocambole, amorzinho?

Antes que ele pudesse responder, a garçonete, sempre atenta, perguntou:
-Querem mais rocambole?

Pensei que talvez fosse perigoso recusar e assenti, com a cabeça. Em pouco tempo surgiu à nossa frente um prato com cinco pedaços do tal rocambole. Me parece uma boa técnica de tortura. Ah, é, você gostou do rocambole, é? Então toma, coma mais um pedaço...e mais outro...e mais outro...e mais outro.....CHEEEEGAAA!!! EU CONFESSO, EU CONFESSO!!!

E quase confessei. Certamente ajudaria saber exatamente o quê eles queriam que eu confessasse. E lá ficamos, comendo e conversando, no instinto natural de comer até acabar a comida, comer os pães com geléia, queijos, frios, bolinhas de queijo, croquetes de frango, bolos de amendoim, de cenoura com chocolate, tortas, biscoitos, pedaços de frango empanados, bolos disso e daquilo, quindins e coisas que permaneceram intactas.

Aliás, a grande frustração é ter a sensação de ter comido um boi, olhar para a mesa e vê-la farta, como se você não tivesse movido um dedo, como se tudo estivesse intacto, como se você tivesse comido apenas uma bolinha de queijo e um biscoito com geléia. É cruel. Nem a sensação de saciedade primitiva, a felicidade de ver sua presa estraçalhada e seu estômago cheio. Cadê a presa estraçalhada?

Parecia um pesadelo. Comer, comer e a mesa continuar cheia de coisas, e a vontade de comer mais, para não desperdiçar e a mesa continuar cheia de coisas, e o desespero porque você não é um avestruz e não cabe mais nem uma ervilha no seu estômago, mas a comida ainda está lá, aqueles picles que dão um certo mal-estar, aliás, tudo ali começa a dar um certo mal-estar, até a torta de chocolate com côco, que você tanto adora (ao menos eu adoro).

Felizmente temos o costume de sentar do mesmo lado da mesa, um ao lado do outro; caso fôssemos como aqueles casais que sentam-se em lados opostos, mal conseguiríamos ver a cara um do outro, soterrados em tantas iguarias terrivelmente calóricas.

Edmund levantou-se para pagar a conta e eu então percebi que no pratinho das bolinhas de queijo ainda havia três sobreviventes, gritando para serem devorados. Ao menos eu os ouvi gritar. Mesmo não conseguindo mais respirar (acho que meu estômago, a essa altura já havia comprimido os meus pulmões), comi as últimas bolinhas de queijo e tive a agradável sensação de ver um prato vazio, de estômago cheio. Vitoriosa, saí, ainda vendo o olhar de insatisfação do garçom ao recolher o prato vazio.

Edmund levantou uma questão interessante, enquanto sofríamos, empanturrados: para onde vão os restos dos alimentos? Por restos entenda-se as fatias de bolo não comidas, pedaços de queijos deixados intactos, salgadinhos inteirinhos, deixados ali por clientes cujo estômago não comporta mais nem uma ervilha.

Pensei que talvez distribuíssem aos necessitados ou os próprios garçons os comessem depois, ou levassem para as suas famílias. Edmund ainda aposta na reciclagem, eles apenas arrumariam os pedaços de bolos, salgadinhos não comidos, completariam as jarras de suco e vinhos, colocariam mais queijos e frios para preencher espaços vazios...e serviriam aos próximos clientes.

Não sei. Tudo me parecia fresco demais para ser reaproveitado, mas quem sabem, não? De qualquer forma estava gostoso e não vi nenhum pedaço mordido, o que já é um bom sinal. Edmund gosta de tentar me apavorar, me deixar neurótica, paranóica, enquanto ele permanece calmo, sereno, tranquilo, impassível.

Na volta, passamos por alguns restaurantes. Fechei os olhos. Ler "churrasco", "galeto", "sequência de fondue" e "café colonial" me embrulhava o estômago....estômago embrulhado com palavras, fechei os olhos e voltamos para casa. Alertei a Edmund para não ler as placas, mas que por favor, não fechasse os olhos. Afinal de contas, era ele quem estava dirigindo.

Peésses:
Fox#23, bom saber de tuas notícias, cheguei a pensar que não estavas mais estre nós, o que seria bastante triste. Sim, fui ao teu blog algumas vezes, tentar encontrar sinais de vida. Quanto à tua pergunta, não há nada de lunático em mim, além do namorado, é claro.

Alencar, claro que pode me chamar de amiga, fiquei lisonjeada com o teu comentário, obrigada :) E espero também que das próximas vezes a TPM seja mais boazinha comigo.

Cal, silêncio, gelo e comida....disso é feito o inverno aqui :) E você tem razão, Edmund é muito compreensivo, calmo, coitadinho, está aprendendo a lidar com a criatura monstruosa que é Josephine tepeêmica...mas espero livrá-lo desse suplício em breve (e a mim também) recorrendo a um tratamento hormonal...embora minha TPM nem seja assim tão assassina, e nem assim tão descontrolados sejam meus hormônios, creio que é tudo psicológico. Acho. E é ótimo te ver por aqui também :)

GURIA, sua idéia de ficar na cama de olho fechado é perfeita, o problema é que nem sempre se consegue fazer isso por uma semana, que seja. Você disse que é bom evitar contato, principalmente, com seres animados. Edmund é o ser mais animado que conheço...na próxima TPM, se houver, pretendo comunicar-me com ele por bilhetes, seguindo seu conselho :) A propósito, em que consiste o tal remédio?

Monik, se eu estivesse na TPM te diria que espero que você tenha lido o post. Como não encontro-me mais em tão lastimável estado, acredito (ou espero) que você tenha lido sim o post, gostou, achou criativo e comentou. Obrigada mesmo, de coração, por mim e por Edmund.

sábado, maio 08, 2004

O Regresso

Fiquei esses dias "de molho" por conta de uma TPM avassaladora. Algumas mulheres não passam por esse período de descontrole hormonal, infelizmente eu não sou uma delas. Em alguns meses a TPM passa despercebida, em outros, porém, melhor seria se trancassem a doce e meiga Josephine em uma sala com isolamento acústico, amarrada a uma cadeira (confortável, tá?) e amordaçada...ou, mais agradável, sedassem a bela e modesta Josephine e a mantivessem desacordada em um quarto escuro, sobre uma cama semi-ortopédica, coberta por três edredons. Este foi um desses meses.

É como se colocassem amplificadores em seu cérebro. Até os aborrecimentozinhos insignificantes que em situações normais passariam despercebidos, tomam proporções quase tão gigantescas quanto o Hernani no post anterior, do Edmund. Aliás, coisas que nem seriam classificadas como aborrecedoras tornam-se insuportavelmente irritantes e eu começo a estapear todo mundo (não literalmente, óbvio) que aparece em minha frente.

Sempre tão gentil, meiga e educada, Josephine transforma-se em uma criatura ranzinza, chata, mal-humorada e irritadiça. O problema é convencer todo mundo, depois que a crise passa, que os culpados eram os hormônios. Estou quase cedendo aos apelos da minha irmã e providenciando um tratamento para colocar esses hormônios mal-educados em seu devido lugar.

Acabei nem escrevendo nada, com medo de espantar os leitores deste Diário, aos quais tanto prezo. Foi para o bem de vocês que me ausentei, para mantê-los longe da ameaça Josephinesca tepeêmica. Se Edmund escrevesse este texto diria que eu me transformo em um monstro cor-de-rosa uma vez por mês, durante alguns looongos dias. Aliás, eu gostaria de ouvir esse relato dele, gostaria de saber como ele vê esses momentos delicados.

Pobre Edmund, sempre tenho a impressão de que ele caiu de pára-quedas em algumas situações, como se não tivesse a mínima idéia de como foi parar ali. Às vezes ele me olha e quase posso ler em seus olhos "de onde surgiu tal criatura?" Bem, nem eu mesma sei como vim parar aqui, mas sei que tem sido bastante agradável e divertido, ao menos na maior parte das vezes.

Em situações normais eu me divirto com Edmund quase todo o tempo, é uma pessoa agradável de se conviver, até mesmo quando começa a conversar consigo mesmo e eu tomo o devido cuidado de não interromper. Se bem que até hoje não consegui entender bem a diferença entre seus diálogos com Sigmund, sua outra personalidade, e os momentos em que ele afirma estar "pensando em voz alta".

Só que até esses momentos que costumam divertir-me irritam-me sobremaneira em situações tepeêmicas, o que me deixa muito chateada, porque eu gostaria de me divertir, mas só consigo ficar irritada, faço força para achar graça e acabo ficando ainda mais irritada por não conseguir ficar mais nada além de profundamente irritada. É frustrante.

Felizmente voltei ao normal. E normal significa normal, porque eu sou normal, Edmund é o lunático. Nada contra, mesmo porque se eu tivesse algo contra lunáticos, não estaria namorando um, mas eu sou bem normal. Acho. Que seja, voltei ao normal e consequentemente este blog também, isto é, ninguém se livra de mim tão cedo. Isso é bom?