Atendendo a pedidos:
Quinta-feira, Maio 08, 2003

Hoje, ao passar no supermercado, comprei algumas latas de sardinha, pois possuo imensa afinidade gástrica com elas (com as sardinhas, não com as latas). Ao chegar em casa e abrir uma delas, pude constatar que havia um espaço abundantemente grande lá dentro, sendo que esse espaço estava mal e parcamente preenchido por sardinhas.
Lembro-me bem que outrora tais recipientes eram de uma densidade populacional tão alta que fariam Tókio parecer um campo de golfe em dia de chuva. No entanto, agora era quase possível ver os prateados peixinhos nadando livremente no óleo comestível. A expressão "lata de sardinha" havia mudado diametralmente de sentido. Não se poderia mais dizer que isso ou aquilo era apertado como uma lata de sardinha, ao contrário, todos iriam querer que suas casas, automóveis e outros bens fossem como latas de sardinha, bem espaçosos.
Não acreditei em meus olhos. Aquilo só poderia ser uma alucinação. Mas não era possível, eu havia tomado minha medicação.
Abri outra lata, e outra, e outra, e outra. Todas iguais. Algo profundamente estranho estava acontecendo.
Formulei várias teorias para tentar explicar o fenômeno do espaçamento intersardinhal e cheguei à única conclusão racional possível: era tudo conseqüência da expansão do universo!
Todavia, no relato do dia dezesseis de abril, comentei sobre a incontestável prova do encolhimento do universo. A trama se complicava. Aparentemente, as teorias se contradiziam. Estaria o universo encolhendo a uma taxa assustadora, ou estaria nosso cosmos expandindo suas fronteiras incessantemente?
Meditei algum tempo sobre o assunto e entre uma sardinha e outra (eu tinha aberto 5 latas) formulei meu novo modelo cósmico.
O universo estaria, sim, expandindo-se. E ao mesmo tempo estaria contraindo-se.
Era óbvio. Somente um universo com zonas de expansão e contração agindo simultaneamente no espaço-tempo explicaria as estranhas aberrações espaciais que eu presenciava.
Visivelmente, a contração e a expansão do universo estavam restritas a algumas áreas, como cinemas e fábricas de sardinha em lata, e ainda assim em pequena escala.
Todavia, se minha teoria estiver correta, estriamos correndo um sério risco pessoal caso a tendência se concretizasse e iniciasse o aparecimento de áreas maiores e com taxas de encolhimento ou expansão de maior significância.
Imagine-se dormindo tranqüilamente em sua cama tendo sua cabeça dentro de uma zona de expansão e o resto de seu corpo em uma zona de encolhimento. Ao acordar pela manhã, você tentaria levantar e subitamente sua gigantesca cabeça cairia no chão enquanto seu psicodélico corpinho seria balançado pelos ares feito um João-Bobo às avessas. Ou pior, mergulhado no desespero e tentando equilibrar-se em suas insignificantes perninhas, você sairia correndo de seu quarto e ficaria com a cabeça entravada nos marcos da porta, somente conseguindo libertar-se após um pedreiro vir e quebrar a parede.
Tal futuro pareceria tenebroso mesmo àqueles com nervos de aço, e deixaria enjoado até àqueles de estômago forte.
Falando em estômago, acho que esse monte de sardinhas que devorei não me fez muito bem. Com licença...
postado por: EDMUND BONAPARTE 12:04 AM

Hoje, ao passar no supermercado, comprei algumas latas de sardinha, pois possuo imensa afinidade gástrica com elas (com as sardinhas, não com as latas). Ao chegar em casa e abrir uma delas, pude constatar que havia um espaço abundantemente grande lá dentro, sendo que esse espaço estava mal e parcamente preenchido por sardinhas.
Lembro-me bem que outrora tais recipientes eram de uma densidade populacional tão alta que fariam Tókio parecer um campo de golfe em dia de chuva. No entanto, agora era quase possível ver os prateados peixinhos nadando livremente no óleo comestível. A expressão "lata de sardinha" havia mudado diametralmente de sentido. Não se poderia mais dizer que isso ou aquilo era apertado como uma lata de sardinha, ao contrário, todos iriam querer que suas casas, automóveis e outros bens fossem como latas de sardinha, bem espaçosos.
Não acreditei em meus olhos. Aquilo só poderia ser uma alucinação. Mas não era possível, eu havia tomado minha medicação.
Abri outra lata, e outra, e outra, e outra. Todas iguais. Algo profundamente estranho estava acontecendo.
Formulei várias teorias para tentar explicar o fenômeno do espaçamento intersardinhal e cheguei à única conclusão racional possível: era tudo conseqüência da expansão do universo!
Todavia, no relato do dia dezesseis de abril, comentei sobre a incontestável prova do encolhimento do universo. A trama se complicava. Aparentemente, as teorias se contradiziam. Estaria o universo encolhendo a uma taxa assustadora, ou estaria nosso cosmos expandindo suas fronteiras incessantemente?
Meditei algum tempo sobre o assunto e entre uma sardinha e outra (eu tinha aberto 5 latas) formulei meu novo modelo cósmico.
O universo estaria, sim, expandindo-se. E ao mesmo tempo estaria contraindo-se.
Era óbvio. Somente um universo com zonas de expansão e contração agindo simultaneamente no espaço-tempo explicaria as estranhas aberrações espaciais que eu presenciava.
Visivelmente, a contração e a expansão do universo estavam restritas a algumas áreas, como cinemas e fábricas de sardinha em lata, e ainda assim em pequena escala.
Todavia, se minha teoria estiver correta, estriamos correndo um sério risco pessoal caso a tendência se concretizasse e iniciasse o aparecimento de áreas maiores e com taxas de encolhimento ou expansão de maior significância.
Imagine-se dormindo tranqüilamente em sua cama tendo sua cabeça dentro de uma zona de expansão e o resto de seu corpo em uma zona de encolhimento. Ao acordar pela manhã, você tentaria levantar e subitamente sua gigantesca cabeça cairia no chão enquanto seu psicodélico corpinho seria balançado pelos ares feito um João-Bobo às avessas. Ou pior, mergulhado no desespero e tentando equilibrar-se em suas insignificantes perninhas, você sairia correndo de seu quarto e ficaria com a cabeça entravada nos marcos da porta, somente conseguindo libertar-se após um pedreiro vir e quebrar a parede.
Tal futuro pareceria tenebroso mesmo àqueles com nervos de aço, e deixaria enjoado até àqueles de estômago forte.
Falando em estômago, acho que esse monte de sardinhas que devorei não me fez muito bem. Com licença...
postado por: EDMUND BONAPARTE 12:04 AM
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