domingo, novembro 30, 2003

Rompimento

Hoje terminei com Edmund. Cansei. Ele se indispôs com o criado-mudo e o guarda-roupa por minha causa e agora disse que eles brigaram com ele. Passou horas com o telefone fixo na orelha direita e o celular na esquerda, falando com ele mesmo sobre os móveis. Depois me fez fazer mingau de aveia com canela e não comeu (ele detesta mingau de aveia).

Falou algumas coisas que não gostei e depois voltou atrás, dizendo que não era bem ele, mas ele quem tinha dito aquilo. Falou do post que escreveu ontem, disse que era aquilo que sentia, ameaçou parar com os antialucinógenos, disse que eu era uma alucinação, se jogou aos meus pés e prometeu me levar para comer camarinhos (eu odeio camarinhos).

Disse que o amor que sente por mim está na zona de expansão do universo e todos os problemas que possamos ter estão na zona de contração, falou que se eu fizesse aquilo com ele ele viraria suco, chorou, desejando nunca ter tomado o elixir da perene memória que foi buscar na Dimensão-Zeta, pois se não tivesse ingerido tal poção, poderia conseguir me esquecer.

Disse que por mim faria uma bolinha com as meias modelo HK99-A em pleno inverno e as jogaria no telhado, que sapatearia nos óculos, que passaria horas trancado no elevador, que trocaria os móveis da casa, que queimaria o cabide em praça pública, que nunca mais daria as oito voltas diárias na quadra ( cinco no sentido horário e três no sentido anti-horário ), que se jogaria em um tanque cheio de cobras e lutaria com coelhos. Chorou, cantou "Love me Tender" e disse que seu outro eu nunca mais se meterá entre nós, disse que eu estava sendo muito "ingigente", que estávamos a um pixel da felicidade e não era justo jogar tudo na lata do lixo daquela forma.

Não tive outra alternativa senão aceitar para que ele parasse com aquela cena no meio do supermercado (uma multidão de curiosos aglomerava-se à nossa volta, ouvindo-o dizer que nunca mais conversaria com os móveis se eu pedisse, que nunca mais saltaria o sofá da sala para passar à cozinha, etc...), tive medo que tivesse mais uma daquelas crises e se abraçasse aos pacotes de salsicha gritando "Julius! Denise! Amigos, falem comigo!!!". Concordei e saí com ele de lá, já falando novamente em uma data do possível casamento. Sinceramente, começo a me apavorar.

PS: Quantas vezes eu já li os posts deste blog? Hum...sei lá, umas trinta, talvez.Ou cinquenta. Não devia?

Obs: Antes que passem a me odiar, não foi minha idéia jogar o criado-mudo fora, na verdade não acho que ele tenha que mudar tanto sua vida por minha causa, só uns 98%. Razoável, não?

sábado, novembro 29, 2003

Alucinação?

Nunca tinha pensado nisso, mas ultimamente me questiono se sou ou não uma alucinação do Edmund. Hoje, porém, começo a questionar se Edmund é uma alucinação minha. Talvez ele simplesmente não exista, no sentido estrito da palavra "inexistir", quem sabe seja ele apenas um espectro do que eu idealizo de um homem para um relacionamento amoroso. De repente, algum dia posso acordar e perceber que tudo foi uma grande fantasia da minha fértil imaginação e deparar-me então com a realidade de que nem todos os homens são Edmund. A bem da verdade, se ele não existir, nenhum homem é Edmund. Seria tremendamente triste constatar isso.

Está difícil conviver com ele, já devo ter dito isso. Muita coisa estranha, coisas que passam por sua cabeça e que não consigo entender, de vez em quando penso seriamente em largá-lo e seguir a minha vida novamente sozinha, mas se ele realmente não existir e for apenas uma bela alucinação de minha mente muito trabalho me será poupado. Não preciso romper um namoro com uma alucinação, alucinações vêm e vão, hoje existem, amanhã inexistem.

Posso, em último caso, consultar o psiquiatra de Edmund e passar a tomar antialucinógenos também. Mas se Edmund for uma alucinação então tudo o que estiver relacionado a ele também será....o psiquiatra, inclusive, e os antialucinógenos. Mas aqueles móveis horrendos me parecem reais.

Se Edmund for realmente alucinação minha retiro tudo o que disse sobre ser centrada, normal e objetiva, preciso ser internada urgentemente. Quem sabe parte dos leitores esteja certa e eu realmente seja uma alucinação do Edmund, mas é uma questão a se considerar, já que realmente não acredito ser alucinação de ninguém. Acho que a gente percebe quando não passa de uma alucinação, não? Não sei, nunca tive uma. Não que eu tenha percebido.

sexta-feira, novembro 28, 2003

Romântica demais





Escrevi hoje pela manhã no Patota's Place: " As coisas sabem como deixar de ser românticas com muita facilidade." E estive pensando um pouco mais sobre isso.

Tinha uma amiga que tinha o sonho romântico de encontrar seu príncipe encantado em um chuvoso final de tarde em um local descampado e, emocionados, eles se aproximariam e trocariam um caloroso beijo encharcado de chuva. Seus sonhos românticos, porém, foram seriamente danificados quando eu lhe alertei que nessas condições ela estaria se arriscando a, mal encontrado o príncipe encantado, ele virar príncipe torrado por ser o ponto mais alto do descampado, praticamente um pára-raios orgânico.

Viúva, mesmo antes de se casar, desesperada, ela agarraria o belo rapaz e seria, junto com ele, eletrocutada pelas românticas forças da natureza... se, no entanto, o rapaz e ela viessem se arrastando pela grama molhada, como soldados em combate, teriam mais possiblilidades de sobrevivência, embora o grau de romantismo aí diminuísse consideravelmente.

No entanto ela não me ouviu, mas também, felizmente, não encontrou seu príncipe encharcado. Confesso que passava noites em claro preocupada com isso, mas depois percebi que cada pessoa é responsável pelo que decide para a sua vida e nada posso fazer para mudar a ordem das coisas.

A manutenção da vida, porém (por pior que ela esteja), deve estar acima de qualquer sonho romântico, de qualquer problema ou planejamento a médio, curto ou longo prazo. A vida pode estar ruim hoje, o que não significa que não possa melhorar amanhã. Ainda bem que é assim, as coisas são cíclicas e não-lineares e é por isso que vale a pena.

Ainda que o príncipe chovido tenha que ser abandonado sozinho no meio do descampado. Se ele quiser eletrocutar-se, que morra sozinho, tentei explicar à minha amiga, você nada tem a ver com os desejos suicidas de tal rapaz da realeza. Cada um faz sua escolha, ainda que a intenção dela fosse subir no cavalo branco (se este aparecesse antes do raio, obviamente) com ele e viver um belo conto-de-fadas (lembrando sempre que contos-de-fadas sempre acabam antes de terminar), não podia ignorar que o tal raio ali estaria, pronto para mandar os sonhos para o espaço, juntamente com ela, o príncipe e o pobre cavalo branco que nada tinha a ver com a história.

Como já disse, felizmente a tal amiga não encontrou o príncipe. Achou um sapo, mas já o devolveu à lagoa. Agora não fala mais em príncipes, nem em sapos, a bem da verdade agora não fala mais em nada, acho que entrou em estado de choque e prefere permanecer calada a esse respeito.

Não que eu não acredite em melosidades e acontecimentos românticos, mas acho que manter um pé na realidade é sempre aconselhável. Minha amiga não fala mais comigo. Por que será?

quinta-feira, novembro 27, 2003

Sumiço

Não soube do Edmund o dia inteiro. Me disseram que ele passou a noite no trabalho e foi cedo para casa. Bati na porta, mas ninguém me atendeu, provavelmente ele desmaiou por lá. Não tenho a chave do apartamento (amanhã providencio isso), o jeito era arrombar a porta. Obviamente, com meus poucos quilos eu jamais conseguiria fazê-lo e também não conhecia nenhum indivíduo corpulento o suficiente que pudesse executar tal serviço.

Após breve e desesperadora pausa, concluí que o melhor a fazer era chamar o chaveiro. O rapaz, pouco educado, quase não falou comigo e ainda me cobrou os olhos da cara, que negociei, trocando pelo mesmo valor em dinheiro. Só tenho dois olhos na cara (e nenhum em outro lugar) e eles me fariam muita falta caso tivesse que usá-los como pagamento.

A porta aberta, dispensei o abridor de portas e procurei por Edmund. O apartamento não é muito grande, mas Edmund tem uma incrível capacidade de se esconder nos lugares mais estapafúrdios. Obviamente, comecei primeiro pelos lugares mais estapafúrdios. Atrás do rack, dentro da máquina de lavar, em cima do guarda-roupa, na secadora, dentro do freezer, sob a mesa da cozinha....e nada.

Procurei embaixo da cama e, desolada, sentei sobre o colchão, desistente. Então percebi que havia um corpo sob o edredom. Era Edmund! Desmaiado, irreconhecível com aquele monte de cabelo sobre o rosto (lembrar de levá-lo ao cabelereiro para aparar os fios). Tentei sacudí-lo, chamei-o pelo nome e nada....ao menos ainda respirava. E não, não tomou nenhum remédio hoje, ao que pude checar.

Desisti. Vou deixá-lo desmaiado pelo tempo em que julgar necessário. Voltei para casa e até agora ele não me ligou, não escreveu, não fez contato por transmissão de pensamento, nada. Mas tinha que escrever alguma coisa no Diário, afinal de contas, isso é um diário. Diário deve ser atualizado diariamente, senão tranforma-se em semanário, mesário, quinzenário, bimestrário, semestrário, anuário, bienário, etc, etc, etc...

Então é isso. Sem novidades por hoje. Eu também nada fiz, preocupada com o pseudo-desaparecimento de Edmund. Às vezes acho que ele pode estar me iludindo com toda essa conversa de amor, pode estar interessado apenas em uma enfermeira particular sem custo adicional. Sei que isso não é nem um pouco romântico, mas Edmund por vezes me confunde.

Apesar de tudo, um dia sem vê-lo e já sinto saudade. Qualquer novidade, volto a postar.
Verme Amarelo Imundo pediu que eu falasse sobre mim, mas não disse exatamente o que gostaria de saber. Ana disse que queria falar comigo, no entanto minha caixa de e-mails continua tristemente vazia, abandonada. Moreno pediu para eu tomar cuidado com o cabide, a máquina engolidora de gente (você também acredita que ela exista? Começo a me preocupar...) e com o Edmund (não, não acreditei na promessa de casamento). Ao que vejo, os leitores deste blog ainda estão ligeiramente confusos com minha presença, não os culpo. Edmund ficou bastante feliz com a receptividade de vocês a mim. Agradeço pelos comentários, vocês são todos muito gentis. Jessica disse que escrevo como o Edmund e teve quem achasse que somos a mesma pessoa, obrigada, mas estou a anos-luz de ter a veia literária dele.

Edmund escreve melhor do que eu. Nem mesmo ele sabia de tal novidade, aliás, ele sequer sabia que escrevia até começar a escrever.Depois veio o blog. O blog veio muito antes de mim, acho que ele se sentia sozinho, para ser sincera, não sei como Edmund viveu tanto tempo sem mim. Se não controlo seus horários ele não toma a medicação, se não cuido da comida ele não se alimenta direito, tenho passado tanto tempo por aqui que acho que se não nos casarmos em breve ele deverá pagar-me um salário de enfermeira.

Dizem que os opostos se atraem, acho que foi o que aconteceu conosco. Edmund me faz ver a vida de uma forma completamente invertida e que faz muito mais sentido do que a convencional. A reação de estranhamento às coisas que nos são banais faz com que meus olhos se abram para certos detalhes do mundo. Sem contar seu bom humor e inteligência. E é uma pessoa muito boa e generosa. Só isso já seria motivo o suficiente para eu pensar mil vezes antes de deixá-lo por conta dessas maluquices dele. Conversa com os móveis, discute consigo mesmo em voz alta, me liga pela manhã dizendo:

- Olha, eu não queria ligar para você agora, mas eu estava com muita vontade de ouvir a sua voz. No entanto eu acho que deveria me concentrar no trabalho, mas eu não consigo entender que não tenho tempo para esse tipo de telefonema, eu vou desligar ainda que não consiga fazer com que eu entenda. Tchau. Não, não!!! Eu não quero desligar!! Mas eu quero. - E desliga.

Me disseram que devo terminar enquanto há tempo, que não é saudável manter esse relacionamento e que acabarei tão louca quanto ele, mas não vejo essa possibilidade. Sou uma pessoa muito centrada e objetiva, ofereço exatamente o contraponto do qual o Edmund precisa para, quem sabe, se recuperar. Talvez a convivência comigo faça com que ele fique normal assim como eu, e não o contrário. Se bem que tenho medo de que ele se recupere e deixe de ser a pessoa que é, e como nunca foi realmente normal, pode ser que ele sofra com a nova condição. Bem, talvez nenhum de nós se altere, quem sabe não permaneceremos para sempre nesse estado: ele lunático e eu completamente normal? Ninguém entende que simplesmente não faz sentido algum terminar com Edmund. Alguém pode me dizer onde eu encontraria outra pessoa comparável a ele?

quarta-feira, novembro 26, 2003

Só um comentário:

Muitas coisas me deixaram feliz nos comentários do último post. Uma delas, um comentário do próprio Edmund, com quem mal consegui me comunicar ontem devido às pressões de seu trabalho escravo. Aqui está:

"Cara Namorada Josephine. Vi-me compelido, em vista da grande importância para nós e para esse ser vivo que denominamos de blog, gastar algumas calorias e escrever esse comentário (mesmo sob o risco de que essas preciosas calorias me façam muita falta logo mais). Estou esfuziante em ver que tão feminina mão e tão possante intelecto está cuidando, e muito bem, de nossa criaturinha. Estou também, devo confessar, tão grato e feliz com sua influência nesse recanto que, se eu imaginasse tal realidade, teria compartilhado as chaves com você antes. Felizmente ele conseguiu sobreviver até a sua chegada, mas com certeza escapou por um triz. Preciso ir agora, mas voltarei tão logo me seja realmente e imaginariamente viável. Alucinados beijos para você. "

Edmund Bonaparte | 26-11-2003 06:53:58

Meu querido Edmund: fiquei realmente, profundamente emocionada porque sei o quanto te custa (em calorias) escrever uma mensagem animadora deste tamanho. Peço-te, se não for pedir demais, que nunca refreie impulsos dessa natureza, que me impulsionam a continuar neste espaço ainda que não esteja me sentindo completamente à vontade por aqui (mas está melhorando).

Fiquei com muito medo de ser apedrejada, como já disse, com um medo ainda maior de ser ignorada e espantar os parcos leitores que ainda voltavam aqui durante a sua ausência, medo de parecer uma instrusa, de me sentir uma intrusa. Foi dessa forma apavorada que invadi, a seu pedido, este Diário e confesso que ainda tremo ao pensar em escrever uma linha que seja em tão exigente recinto, felizmente seus leitores são bastante amáveis e compreensivos e têm me ajudado nesse novo desafio. É bom saber que a máquina engolidora de gente ainda não te engoliu e melhor ainda receber esses beijos alucinados dos quais tanto sinto falta quando você está longe. Só espero que não se acomode e não me largue aqui sozinha para sempre só porque achou que me saí bem nessa empreitada.

Outra coisa que muito feliz me deixou foi o comentário do Pera (muito peranóico), ratificado pelo auto-denominado primo Thiago Dhatt que questionaram minha identidade, sugerindo que eu e Edmund na verdade somos a mesma pessoa. Primeiro, eu não costumo escrever assim, não sei o que está me acontecendo, provavelmente seja a influência do lugar. Depois, eu e Edmund nos damos tão bem que em certos momentos até mesmo nós duvidamos da dualidade de nossa existência, fato comprovado apenas por certas diferenciações físicas impossíveis de coexistir em uma mesma pessoa (não preciso entrar em detalhes, né?), também existe o fato de que uma mesma pessoa não pode nascer em duas etapas, com mais de cinco anos de diferença, não fosse por isso até nós desconfiaríamos de que somos a mesma pessoa. Respondendo à sua pergunta, não vi "Clube da luta" porque me disseram que não havia uma única mulher no elenco e achei que uma produção sem uma mísera cena de amor seria completamente dispensável. E dispensei.(Estava em um momento romântico de minha existência)

"bem, eu sou desconfiado por natureza. Acho que a senha do blog não se dá nem pra mãe."

Tem razão, Pera, tanto concordo que minha mãe não tem a senha do meu blog e creio eu que a mãe do Edmund também não tem a senha deste blog. Acho que já disseram ao Edmund que não é aconselhável dar a senha do blog para namoradas porque quando elas se tornam ex-namoradas podem fazer um belo estrago. Achei uma grande prova de confiança (e prova de que ele não pretende transformar-me em "ex-namorada"), até tentei demovê-lo da idéia, mas, romanticamente alucinado, disparou a frase: "O que é meu é seu". Como Edmund não tem muita coisa de valor, contento-me com a tal senha do blog (agora tenho meu próprio login e senha, tendo sido convidada por mim mesma a participar deste blog). Talvez, para provar seu desprendimento, eu devesse pedir também a senha do banco. Mas essa é uma segunda etapa.

Mas fiquei feliz ao ser comparada ao Edmund porque acreditava que minha capacidade estava muito aquém do que este blog exige e daquilo que vocês estavam acostumados a ler por aqui. Bom ser comparada a tal gênio literário...e não, não sou Edmund e nem tampouco me pareço com ele, mas você terá que acreditar em minha palavra porque no momento não posso provar. Nem sei se o blogger permitiria uma postagem simultânea de dois usuários de um mesmo blog, mas podemos tentar assim que o trabalho escravo lhe permitir. Por todas essas coisas, obrigada pela comparação, me deixou muito feliz mesmo.

Começo a gostar muito deste blog e me sinto terivelmente impulsionada a postar mais. Apavorei-me, porém, com o comentário do Bhay, que disse que blogar enlouquece. Sinto que coisas elouquecedoras têm cercado minha existência para, de alguma forma, tentar me enlouquecer. Mas sou centrada demais, lógica demais para ser derrubada por tão malévolas influências. Estou bem, estou bem, ainda sou normal, estou normal. Eu acho.

Nota: Dias de incomensuráveis emoções, acabo de ser convidada pelo Shigue para, assim como Edmund, integrar o time do Patota's Place, já escrevi meu primeiro post por lá hoje.

Outra nota: Depois coloco aqui o post de hoje, mais tarde.

Economizando energia

Edmund hoje decidiu que, para poupar energia (que precisa ser gasta no trabalho escravo) precisa parar de falar. Leu em algum lugar que uma hora falando (Edmund é uma criatura tagarela) gasta cerca de 105 calorias. Tinha que decidir entre as 105 calorias de uma conversa e 280 calorias de um banho de uma hora. Felizmente preferiu parar de falar e continuar tomando banho. Entra e sai de casa sem pronunciar uma única palavra e se comunica através de desenhos no guardanapo de papel. Estou tentando falar com ele há horas, mas simplesmente não me responde.

Descobriu que o organismo gasta duas calorias por hora para pensar. Sendo assim, uma hora sem falar corresponde a uma economia de 52,5 horas de pensamento, coisa que é bastante necessária para que ele consiga cumprir suas tarefas, tanto imaginárias quanto reais. Ao menos ele acha que as coisas são assim. Nada posso fazer a não ser esperar que ele descubra outra forma de poupar energia para cumprir o mais rápido possível suas funções e poder retornar a este blog (não me disse ainda o que achou do post de ontem porque não há desenhos para expressar o que ele sentiu ao ler meu primeiro movimento dessa grande sinfonia).

A parte ruim: descobriu que tirar o pó dos móveis gasta 126 calorias e eu é que tenho que passar um pano úmido (sim, segundo ele o criado-mudo é alérgico e espirra com espanador) em todos aqueles móveis medonhos ao menos uma vez ao dia (não que eu não goste deles, eles é que não gostam de mim, eu sinto isso). Gosto muito do Edmund, mas sinto que se continuar assim acabarei enlouquecendo.

segunda-feira, novembro 24, 2003

Notícias de um Lunático

Sim, ele vai voltar. Ele prometeu que vai voltar. Na verdade ele me prometeu muita coisa ontem, talvez para que eu ficasse quieta e parasse de incomodar. Prometeu que vai tomar os remédios normalmente, que não vai jogá-los para as samambaias (mesmo porque elas não costumam ter alucinações), prometeu que vai parar de conversar com o cabide (ele me faz alimentá-lo todos os dias quando não está em casa, apesar de eu nunca ter visto um sinal de vida em tal criatura), prometeu que vai jogar fora aquelas meias velhas horrorosas, prometeu até que vai casar comigo. E como não tinha mais nada a fazer, me deu as chaves deste blog, acho que a intenção era me arranjar alguma coisa para fazer e deixá-lo um pouco em paz.

Tem tomado a medicação corretamente, mas semana passada entrou numas de que uma conspiração farmacêutica havia trocado os componentes da fórmula dos antialucinógenos para que lhe causassem uma modificação genética que transformaria sua personalidade. Aí não tinha quem o fizesse tomar os tais comprimidos. Desconfiado de que eu era, de verdade, parte da conspiração, me testou, pedindo-me que tomasse os remédios para provar que não viraria, de repente, uma mulher transgênica.

Tentei argumentar dizendo que, como eu não tinha alucinações, não havia necessidade de antialucinógenos, mas não teve outro jeito. Passei a semana inteira tomando os remédios e confesso que me senti meio estranha, mas não houve alteração significativa de personalidade. Convencido de que aquelas caixas ainda não eram as alteradas pela conspiração farmacêutica ele deu continuidade ao tratamento. Bem a tempo, pois a ausência dos antialucinógenos começava a prejudicá-lo em seu trabalho escravo e ele tinha certeza de estar sendo perseguido por grandes máquinas engolidoras de gente.

Agora está bem. Passa pouco tempo em casa e desmaia com maior frequência. Tem sido bom e interessante manter esse relacionamento, mas está me dando muito trabalho. O problema maior são os móveis. Ele diz que eles não falam comigo porque acreditam que não gosto deles. Na verdade eu queria mudar a decoração da casa, o guarda-roupa e o criado-mudo são de madeira marrom (não entendo muito de móveis, sei que esse marrom escuro tem um nome específico) com bolinhas amarelas (vocês sabiam disso???) ele diz que eles preferem ser assim e não quer, de jeito nenhum, que eu os mande para a reforma ou troque por novos. Juro, bolinhas amarelas. Tentarei tirar uma foto deles para postar aqui.

O fato é que começo a ficar preocupada comigo. Não fico no quarto quando estou sozinha aqui no apartamento do Ed, olho, desconfiada, para os móveis e me apavoro só em pensar que eles podem resolver falar comigo. Esses dias tive a nítida impressão de que o cabide havia puxado o meu cabelo. Mas meu raciocínio lógico logo me disse que ele apenas havia se enroscado no móvel.

Para que eu deixasse seus móveis em paz ele me revelou a existência deste blog e me incumbiu de tomar conta dele enquanto ele não puder fazê-lo. Aqui estou, embora não entenda nada de blogs e ache muito esquisito ter que ficar escrevendo aqui, mas não tive escolha. Edmund me disse que blogs são seres vivos e que necessitam de cuidados ou acabam entrando em sofrimento, como não posso contrariá-lo (nunca tentei, mas prefiro não arriscar), aceitei a tarefa. Disse que me acostumarei, tenho que acreditar nele.

Agora preciso sair porque o computador fica no quarto e o criado-mudo está me olhando de um jeito estranho.

Sobre a recepção

Percebi que, em linhas gerais, os leitores deste blog agradaram-se da minha presença. Queria explicar que não invadi esse espaço, fui convidada e aceitei, relutante, adentrar este recinto. Também acho esquisito escrever em um local que não me pertence, Aldy, mas ele insistiu e eu realmente achei que era melhor do que ele deletar o Diário, como cogitou fazer. Moreno, agradeço por ter tirado o Diário do castigo e acho que ele já pode até assistir televisão e jogar video-game. M16, Ed não gosta muito de robôs, diz que são brutos com os móveis. E ele já chegou a pedir para eu ficar quando ele voltar, ainda não me decidi. Tudo depende da minha adaptação a este local.

Verme Amarelo Imundo, como tenho mais tempo disponível que o Edmund visitarei sim os blogs de vocês, de acordo com as possibilidades, e comentarei sim, de acordo com minha compreensão dos textos postados. Blanda, agradeço o comentário, mas eu sou uma pessoa bastante normal, como vocês poderão perceber se acompanharem este blog por esses dias em que ficarei por aqui. E acho que eu e o Edmund fomos feitos um para o outro sim...quem mais alimentaria seus mal educados móveis? Pera, tinha um post aqui avisando que o template não era uma alucinação, mas acabei achando que não era necessário tal aviso. Pelo visto era sim.

Heiter (Van) esse blog voltará a ser um diário diário, como pode perceber, e Dé, desculpe-me se te apavorei com tantas novidades, tentei avisar. Certamente pensou tratar-se de uma realidade alternativa, mas na verdade essa foi a única alternativa disponível, já que as duas outras, descartadas eram o abandono e a morte do blog (Edmund me disse que blogs são seres vivos, que adoecem e morrem quando abandonados). Peço desculpas antecipadamente porque não poderei responder a todos os comentários sempre para não ocupar o espaço dos posts (e deixá-los livres, são sempre muitas mensagens carinhosas), mas os lerei e o Edmund também.

A todos agradeço pela calorosa recepção, confesso que tive medo de ser apedrejada por estar tomando o lugar de tão adorável criatura. Mas ele volta. E quando voltar, se as coisas por aqui continuarem tão boas, continuarei sim. Mais uma vez obrigada. Respeitosos abraços.

domingo, novembro 23, 2003

Apresentando Josephine ButterFly


A vida muda. Os templates também. Alguém pode estar se perguntando "quem é essa louca?" Tudo bem, eu vou me apresentar. Antes, porém, preciso explicar o porquê de Edmund não estar postando, o porquê do template ter retrocedido e o porquê, principalmente, de eu estar aqui falando (ou escrevendo) no lugar dele.

Sim, este lugar ainda é dele. Estou apenas cuidando da casa, fazendo a faxina, alimentando os móveis enquanto ele não retorna. Edmund está atarefado. Mais do que atarefado, ele está completamente enrolado, enroscado nos fios invisíveis do trabalho escravo. Nada que não passe com uma não tão certa facilidade, mas isso demanda paciência. Coisa que, pelo número de comentários terrivelmente reduzido, vocês não parecem ter em grande quantidade. Por isso ele me chamou.

Edmund precisava, antes de retornar a este blog, reencontrar suas raízes para ver se conseguia tirar delas um pouco de inspiração para escrever o que quer que fosse. Procurou, mas nada encontrou além de seus sapatos. Então me pediu para trazer de volta o template antigo, quem sabe assim ele pudesse resgatar algum valor histórico para sua tão desinspirada inspiração. Precisei de algumas horas de massagem cardíaca e respiração boca-a-boca, mas consegui ressuscitá-lo (o template).

O outro, que estava aqui antes desse (embora esse estivesse aqui antes daquele), não foi mandado para o espaço, obviamente, pois foi feito e presenteado com muito carinho pelo M16, grande amigo do Edmund, segundo ele próprio. Aquele template está gentilmente congelado em meu freezer, para quando o Ed achar que as coisas estão mais claras.

Nesse instante, porém, para quebrar a monotonia, as mudanças invadem este blog. A novidade (eu) e a velharia (o template)...ou seria o contrário?

Bem...e quem sou eu? Respondendo de forma clara (ou escura, afinal de contas, troquei o template), meu nome é Josephine ButterFly e sou namorada do Edmund (sim, ele tem namorada. Não tinha, agora tem, o conheci assim que ele voltou da Dimensão-Zeta), futura mãe de seus trinta e sete filhos.

Infelizmente não sou lunática, não preciso de antialucinógenos, mas virei diariamente (afinal de contas, isto ainda é um diário) aqui contar a vocês como o Edmund está e como é conviver com essa doce criatura, mesmo quando ele não toma a sua medicação. Enfim, um elo entre vocês e o Edmund, para que este blog não se perca na constelação de blogs, até que ele possa voltar (e ele vai voltar) ao convívio virtual.


PS: Sei que é muita informação chocante para um post só, espero que sobrevivam.


Ele ainda checa os e-mails e lê os comentários. Se as mãos não funcionam, os olhos (ainda) sim.