sábado, abril 05, 2008

Aqui, comendo sequilhos da Seven Boys (não, ninguém me pagou nada por essa propaganda), lembrei de ter algum blog em algum lugar. Há um ano, exatamente, não escrevo nada neste espaço e é impossível evitar a pergunta que reverbera em minha mente: "por quê?" Não sei. A resposta é assim simples.

O tempo é uma noção estranha, para mim é mais estranha ainda. Não é uma linha contínua, mas um campo extenso em cuja superfície é possível flutuar em diversas direções. Eu flutuo em saltos estranhos, me perco, às vezes. Não parece que passou um ano, nem sei o que parece.

Obviamente, tenho consciência de que para a maioria das pessoas o tempo é aquela linha contínua unidirecional, sobre a qual elas caminham, caminham, caminham. Tenho bem clara em minha mente a certeza de que, por isso, ninguém mais há que visite regularmente este espaço. O ano passou para todos, muito mais do que para mim, e ninguém se lembra de Josephine.

Mesmo consciente de meu ocaso, insisto em escrever, pois minha vontade de me expressar não se incomoda com o fato de não haver interlocutor disponível.

Os sequilhos do pacote estão acabando. Pouquíssimos ainda estão inteiros, a maioria, esfacelada, pouco conserva da rosquinha que já foi um dia. Não, isso não é poético, nem tem um significado oculto. É um comentário banal sobre acontecimentos banais. Todos os dias milhões de pacotes de bolachinhas acabam, e isso é corriqueiro, porém imensamente triste e é um assunto sobre o qual não vale a pena discorrer, pois não quero fazer um post depressivo.

Lavei minha vida e a pendurei no varal, para secar. Ficou esquecida lá, durante uma semana de inverno, e tive de lavar de novo, para tirar o cheiro de mofo. Estendi no varal novamente em um dia de sol, em um ano de sol entre nuvens. Agora resolvi lavar de novo e colocar de molho em amaciante. Tudo pronto, foi novamente para o varal. Parece seca, não sei, mas está com um cheiro muito bom, dá vontade de abraçar. Visto minha vida agora depois de tanto tempo, já meio sem jeito, vendo o quanto emagreci, pensando em um ou outro ajuste que precisarei fazer para tirar a sensação de estar vestindo um saco de batatas.

Ainda combina comigo, mas precisa daqueles ajustes. Um sapato novo, um brinco diferente. Descobrir de novo com o que ela combina. Finalmente me sinto confortável e, sentada à máquina de costura, planejo as alterações necessárias para uma nova estréia. Sem pressa.

Ponho o tempo na gaveta para que ele não me incomode. Desliguei a televisão, desliguei o mundo exterior. Por enquanto meu interesse é apenas na reforma. Nas horas vagas, escreverei novamente, para desligar um pouco mais enquanto os consertos são feitos.

Fechei o pacote dos sequilhos antes que eles acabassem. Disfarço e finjo que eles ainda têm tempo. É uma quantidade ínfima, mas é melhor esperar para comê-los quando eu realmente tiver vontade, não pela simples obrigação de terminar o pacote. Sem pressa.

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PS: Agora é que me dei conta de que não escrevo aqui há quase DOIS anos. Eis a prova de que o tempo, para mim, é diferente. Mas explico: cheguei a escrever um post aqui há um ano, mas não concluí e ele está até hoje nos rascunhos, incompleto. Fechado, como o pacote de sequilhos, na esperança de que dure um pouco mais.