Notícias de um Lunático
Sim, ele vai voltar. Ele prometeu que vai voltar. Na verdade ele me prometeu muita coisa ontem, talvez para que eu ficasse quieta e parasse de incomodar. Prometeu que vai tomar os remédios normalmente, que não vai jogá-los para as samambaias (mesmo porque elas não costumam ter alucinações), prometeu que vai parar de conversar com o cabide (ele me faz alimentá-lo todos os dias quando não está em casa, apesar de eu nunca ter visto um sinal de vida em tal criatura), prometeu que vai jogar fora aquelas meias velhas horrorosas, prometeu até que vai casar comigo. E como não tinha mais nada a fazer, me deu as chaves deste blog, acho que a intenção era me arranjar alguma coisa para fazer e deixá-lo um pouco em paz.
Tem tomado a medicação corretamente, mas semana passada entrou numas de que uma conspiração farmacêutica havia trocado os componentes da fórmula dos antialucinógenos para que lhe causassem uma modificação genética que transformaria sua personalidade. Aí não tinha quem o fizesse tomar os tais comprimidos. Desconfiado de que eu era, de verdade, parte da conspiração, me testou, pedindo-me que tomasse os remédios para provar que não viraria, de repente, uma mulher transgênica.
Tentei argumentar dizendo que, como eu não tinha alucinações, não havia necessidade de antialucinógenos, mas não teve outro jeito. Passei a semana inteira tomando os remédios e confesso que me senti meio estranha, mas não houve alteração significativa de personalidade. Convencido de que aquelas caixas ainda não eram as alteradas pela conspiração farmacêutica ele deu continuidade ao tratamento. Bem a tempo, pois a ausência dos antialucinógenos começava a prejudicá-lo em seu trabalho escravo e ele tinha certeza de estar sendo perseguido por grandes máquinas engolidoras de gente.
Agora está bem. Passa pouco tempo em casa e desmaia com maior frequência. Tem sido bom e interessante manter esse relacionamento, mas está me dando muito trabalho. O problema maior são os móveis. Ele diz que eles não falam comigo porque acreditam que não gosto deles. Na verdade eu queria mudar a decoração da casa, o guarda-roupa e o criado-mudo são de madeira marrom (não entendo muito de móveis, sei que esse marrom escuro tem um nome específico) com bolinhas amarelas (vocês sabiam disso???) ele diz que eles preferem ser assim e não quer, de jeito nenhum, que eu os mande para a reforma ou troque por novos. Juro, bolinhas amarelas. Tentarei tirar uma foto deles para postar aqui.
O fato é que começo a ficar preocupada comigo. Não fico no quarto quando estou sozinha aqui no apartamento do Ed, olho, desconfiada, para os móveis e me apavoro só em pensar que eles podem resolver falar comigo. Esses dias tive a nítida impressão de que o cabide havia puxado o meu cabelo. Mas meu raciocínio lógico logo me disse que ele apenas havia se enroscado no móvel.
Para que eu deixasse seus móveis em paz ele me revelou a existência deste blog e me incumbiu de tomar conta dele enquanto ele não puder fazê-lo. Aqui estou, embora não entenda nada de blogs e ache muito esquisito ter que ficar escrevendo aqui, mas não tive escolha. Edmund me disse que blogs são seres vivos e que necessitam de cuidados ou acabam entrando em sofrimento, como não posso contrariá-lo (nunca tentei, mas prefiro não arriscar), aceitei a tarefa. Disse que me acostumarei, tenho que acreditar nele.
Agora preciso sair porque o computador fica no quarto e o criado-mudo está me olhando de um jeito estranho.
Tem tomado a medicação corretamente, mas semana passada entrou numas de que uma conspiração farmacêutica havia trocado os componentes da fórmula dos antialucinógenos para que lhe causassem uma modificação genética que transformaria sua personalidade. Aí não tinha quem o fizesse tomar os tais comprimidos. Desconfiado de que eu era, de verdade, parte da conspiração, me testou, pedindo-me que tomasse os remédios para provar que não viraria, de repente, uma mulher transgênica.
Tentei argumentar dizendo que, como eu não tinha alucinações, não havia necessidade de antialucinógenos, mas não teve outro jeito. Passei a semana inteira tomando os remédios e confesso que me senti meio estranha, mas não houve alteração significativa de personalidade. Convencido de que aquelas caixas ainda não eram as alteradas pela conspiração farmacêutica ele deu continuidade ao tratamento. Bem a tempo, pois a ausência dos antialucinógenos começava a prejudicá-lo em seu trabalho escravo e ele tinha certeza de estar sendo perseguido por grandes máquinas engolidoras de gente.
Agora está bem. Passa pouco tempo em casa e desmaia com maior frequência. Tem sido bom e interessante manter esse relacionamento, mas está me dando muito trabalho. O problema maior são os móveis. Ele diz que eles não falam comigo porque acreditam que não gosto deles. Na verdade eu queria mudar a decoração da casa, o guarda-roupa e o criado-mudo são de madeira marrom (não entendo muito de móveis, sei que esse marrom escuro tem um nome específico) com bolinhas amarelas (vocês sabiam disso???) ele diz que eles preferem ser assim e não quer, de jeito nenhum, que eu os mande para a reforma ou troque por novos. Juro, bolinhas amarelas. Tentarei tirar uma foto deles para postar aqui.
O fato é que começo a ficar preocupada comigo. Não fico no quarto quando estou sozinha aqui no apartamento do Ed, olho, desconfiada, para os móveis e me apavoro só em pensar que eles podem resolver falar comigo. Esses dias tive a nítida impressão de que o cabide havia puxado o meu cabelo. Mas meu raciocínio lógico logo me disse que ele apenas havia se enroscado no móvel.
Para que eu deixasse seus móveis em paz ele me revelou a existência deste blog e me incumbiu de tomar conta dele enquanto ele não puder fazê-lo. Aqui estou, embora não entenda nada de blogs e ache muito esquisito ter que ficar escrevendo aqui, mas não tive escolha. Edmund me disse que blogs são seres vivos e que necessitam de cuidados ou acabam entrando em sofrimento, como não posso contrariá-lo (nunca tentei, mas prefiro não arriscar), aceitei a tarefa. Disse que me acostumarei, tenho que acreditar nele.
Agora preciso sair porque o computador fica no quarto e o criado-mudo está me olhando de um jeito estranho.
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