sexta-feira, novembro 28, 2003

Romântica demais





Escrevi hoje pela manhã no Patota's Place: " As coisas sabem como deixar de ser românticas com muita facilidade." E estive pensando um pouco mais sobre isso.

Tinha uma amiga que tinha o sonho romântico de encontrar seu príncipe encantado em um chuvoso final de tarde em um local descampado e, emocionados, eles se aproximariam e trocariam um caloroso beijo encharcado de chuva. Seus sonhos românticos, porém, foram seriamente danificados quando eu lhe alertei que nessas condições ela estaria se arriscando a, mal encontrado o príncipe encantado, ele virar príncipe torrado por ser o ponto mais alto do descampado, praticamente um pára-raios orgânico.

Viúva, mesmo antes de se casar, desesperada, ela agarraria o belo rapaz e seria, junto com ele, eletrocutada pelas românticas forças da natureza... se, no entanto, o rapaz e ela viessem se arrastando pela grama molhada, como soldados em combate, teriam mais possiblilidades de sobrevivência, embora o grau de romantismo aí diminuísse consideravelmente.

No entanto ela não me ouviu, mas também, felizmente, não encontrou seu príncipe encharcado. Confesso que passava noites em claro preocupada com isso, mas depois percebi que cada pessoa é responsável pelo que decide para a sua vida e nada posso fazer para mudar a ordem das coisas.

A manutenção da vida, porém (por pior que ela esteja), deve estar acima de qualquer sonho romântico, de qualquer problema ou planejamento a médio, curto ou longo prazo. A vida pode estar ruim hoje, o que não significa que não possa melhorar amanhã. Ainda bem que é assim, as coisas são cíclicas e não-lineares e é por isso que vale a pena.

Ainda que o príncipe chovido tenha que ser abandonado sozinho no meio do descampado. Se ele quiser eletrocutar-se, que morra sozinho, tentei explicar à minha amiga, você nada tem a ver com os desejos suicidas de tal rapaz da realeza. Cada um faz sua escolha, ainda que a intenção dela fosse subir no cavalo branco (se este aparecesse antes do raio, obviamente) com ele e viver um belo conto-de-fadas (lembrando sempre que contos-de-fadas sempre acabam antes de terminar), não podia ignorar que o tal raio ali estaria, pronto para mandar os sonhos para o espaço, juntamente com ela, o príncipe e o pobre cavalo branco que nada tinha a ver com a história.

Como já disse, felizmente a tal amiga não encontrou o príncipe. Achou um sapo, mas já o devolveu à lagoa. Agora não fala mais em príncipes, nem em sapos, a bem da verdade agora não fala mais em nada, acho que entrou em estado de choque e prefere permanecer calada a esse respeito.

Não que eu não acredite em melosidades e acontecimentos românticos, mas acho que manter um pé na realidade é sempre aconselhável. Minha amiga não fala mais comigo. Por que será?