segunda-feira, julho 12, 2004

Nota

Alguém me jogou aqui, dizendo que eu sabia escrever, sabendo das inúmeras meia dúzia de coisas que tenho a fazer durante o dia e que me impedem de escrever tanto quanto eu gostaria, ou deveria, neste lugar.

Alguém me disse que eu era alguma coisa, que eu podia tudo, que, se eu quisesse, faria qualquer coisa. Nunca soube ao certo se deveria acreditar.

Alguém me assegurou que se eu acreditasse, aconteceria. Bom ou ruim, qualquer coisa que mereça nossa certeza acontece. Sim, pude constatar. Com as coisas ruins, na maior parte das vezes, porque a gente tem uma dificuldade terrível em acreditar nas coisas boas antes que elas aconteçam.

Alguém me avisou que não deveria comer tanto doce, e me deu quinhentas razões para isso. Até um livro já escreveram, contando dos males que o açúcar faz ao organismo.

Alguém também me disse que o cérebro alimenta-se de glicose :)

Alguém me recriminou por deixar tudo pela metade, por escrever demais sobre mim, por me expôr demais onde nem eu mesma sei quem está vendo, ou ouvindo, ou espionando....

Alguém me chamou para dizer como eu deveria me vestir, agir ou pensar, e me disse que eu estava fazendo errado por fazer como eu queria.

Alguém me disse que escrevo mal, contrariando aquele alguém do início do texto que me jogou aqui dizendo que eu sabia escrever.

Alguém falou que eu não deveria estar aqui, porque não combino com este lugar, porque não faço ninguém rir, porque sou Josephine demais para este Diário Alucinado. Josephine não alucina.

Alguém me descreveu de uma forma que eu jamais poderia imaginar, dizendo que escrevo de um jeito que faz com que ele se divirta como há muito tempo não fazia. O que me fez olhar de outra forma para este espaço e me sentir, pela primeira vez, merecedora deste lugar.

Alguém me fez pensar. Ficar mais um pouco, escrever, insistir. É difícil, mas não é certo desistir de nada, principalmente do que não nos julgamos capazes de fazer.

Alguém me olha, meio de lado, sorri e diz que não sei de nada. Não sei de nada mesmo, nunca soube. Sento nesta cadeira e escrevo. Nunca sei o que escrever antes de começar o texto. Não aqui.

Alguém me espera, cansado, triste, imaginando que eu quero manter-me longe. Nem sabe que só quero ficar um pouco comigo, bater os dedos nestas teclas, no frio, esperando que um pouco dessas linhas me aqueça.

Não aquecem.

Linhas não aquecem ninguém.

E está frio hoje, muito frio.

Paro um pouco. O dia deveria ter mais, no mínimo, umas seis horas. Eu precisaria delas. Seriam muito úteis.

Não sei mesmo. De nada. Nem mesmo se eu deveria publicar essa minha declaração de ignorância. Josephine é ignorante. Todos nós somos. Pobre daquele que acha que sabe alguma coisa desta vida.

Porque ela passa.

Alguém me avisa que este texto está muito para baixo. Não acho. A vida passa mesmo e a gente tem que saber disso para fazer com que ela valha a pena, para não perder tempo com bobagens, para não ficar querendo morrer antes da hora.

Alguém pode até pensar que é fácil dizer e que Josephine não sabe nada da vida. Não da minha vida. E Alguém sabe?

Alguém sabe quem sou? O que penso? O que vivo? Alguém sabe o que espero? Pelo que luto? O que quero? Alguém sabe algo nesta vida? Alguém sabe de mim? De você?

Insisto, porque sou teimosa. Luto, porque de nada adianta ver o tempo passar adiante e nada acontecer. Ver o lado ruim das coisas quando tantas coisas boas existem, até mesmo no que é ruim.

A vida é cheia de coisas brilhantes pelo caminho. Pequenas coisas, interessantes, que se transformam em coisas magníficas quando olhamos para elas ou em trastes insignificantes quando insistimos em olhar para os espinhos e para as pedras do caminho, caminhos cheios de pedras.

E eu paro. Porque alguém me avisa que este texto está muito estranho. Concordo.

Alguém me pede para não revisar, senão não posto nada hoje. Vai assim, como está. Concordo.

Vai. Assim, como está.

PS: Esta difícil logar no haloscan para responder os comentários. Preciso dormir (está friiiio), amanhã faço isso. Só um aviso a MpassosT: esteja à vontade para linkar o Diário em seu blog, sem dúvida alguma.

E boas vindas aos novos leitores. Aos que não comentam (por que raios não comentam?) e aos que se apresentam, como o Azrael. E para que nossos leitores comentantes habituais não se sintam rejeitados, um abraço a vocês :). Respeitoso, como sempre.