segunda-feira, março 15, 2004

Relendo comentários antigos, vi um do "Oculto X" (onde está ele?) em que ele dizia que gostaria de saber mais sobre meu mundo, sobre quem sou, ou coisa do gênero.

Bem, estou aqui para falar de Edmund, este é blog é dele e acho que minha participação aqui resume-se a "Informante" dos passos do Lunático enquanto ele não volta, por isso não me sinto à vontade para falar de Josephine, como se estivesse me aproveitando de um espaço que não me pertence.

Mesmo porque minha vida tem sido Edmund, desde que o conheci. Ele depende de mim em diversos aspectos, administro a ele os medicamentos diários (sim, suspendi a medicação, ou melhor, a troquei por vitaminas, para testar), ajudo-o quando tem alguma alucinação no trânsito (se bem que brigamos feio da última vez em que isso aconteceu), passo hidratante em suas mãos ao menos duas vezes ao dia (sim, isso é muito importante) e lixo suas unhas.

Quando viajei, deixei um pote de creme para as mãos e uma lixa de unha, para que ele sobrevivesse enqüanto eu estivesse fora. Ao retornar, menos de dez dias depois, o encontrei atirado sobre a cama, unhas compridas, mãos ressecadas e barba por fazer, dois quilos mais magro, sem tomar as vitaminas, conversando com o cabide.

Edmund disse que o cabide até que tentou tirá-lo daquele estado lastimável, mas que só minha presença seria capaz de fazê-lo retornar ao estado anterior, recuperado de tantos e tantos dias de ausência profunda e absoluta solidão.

Edmund é uma criatura dramática, não acredito que eu faça tanta falta assim, mas devo confessar que me esforço.Se você gosta do rapaz, deve tornar-se absolutamente indispensável para ele, assim, ainda que haja oportunidade de te trocar por outra, ele abominará a idéia, na certeza de que jamais sobreviverá a um mísero dia sem seus cuidados.

Aquele acontecimento fez com que eu tivesse uma revelação: homens são seres carentes e dependentes. Carinho, cuidado e atenção (atenção não é grude, por favor) na medida certa, o importante é fazer tudo o que estiver ao seu alcance. Premeditadamente, ardilosamente, vale qualquer coisa (lícita) que cause dependência psicológica e nenhum dano aparente. Alguns exemplos já testados e aprovados:

Passar creme nas mãos: Um dia sem creme o fará desesperar-se com a sensação de aspereza à qual ele já estava acostumado anteriormente, mas intolerável agora. Lembrem-se sempre do post anterior: antes ele sobrevivia sem isso porque era ignorante, mas depois de conhecer o efeito de um bom creme (não aqueles grudentos) sua vida jamais será a mesma. Não requer prática, nem tampouco habilidade, apenas um bom creme.

Fazer suas unhas: No começo ele pode até espernear, dizendo que isso é coisa de mulher e outras afirmações igualmente ignorantes. Para evitar esse tipo de coisa, antes de sugerir, esculhambe, carinhosamente, as unhas dele, por exemplo: "Nossa, é uma pena mãos tão bonitas com unhas tão tortas, mal cortadas." Isso deve bastar para que ele aceite experimentar uma boa lixa e um discreto alicate. Mas só faça isso se você tiver habilidade, senão, melhor inventar outra coisa.

Cortar seu cabelo: Novamente, só faça isso se estiver certa do que está fazendo, caso contrário surtirá o efeito oposto. Lembre-se sempre de que quanto mais liso for o cabelo do indivíduo, menos você poderá errar. Se ele for muito chato, esqueça essa idéia. Aliás, se ele for muito chato, troque-o por um mais legal :).

Vitaminá-lo: Aqui vale ficar responsável pelo horário da medicação, caso ele use. Usando ou não, compre um polivitamínico e antes de fazê-lo tomar, leia toda a bula, a ação esperada do comprimido e todas as milhares de vitaminas que ele possui. Uma boa auto-sugestão potencializa os efeitos de qualquer vitamina. E sem você ele se sentirá fraco, desmotivado... (importante: carregue a vitamina COM VOCÊ, para torná-lo dependente).

Fazer seu prato preferido: Descubra qual doce ele adora e aprenda a fazer divinamente bem. Convide-o uma vez por semana para comer a iguaria em sua casa (ou na casa dele, tanto faz, desde que você faça). Também é necessária habilidade especial para isso, dependendo do objeto da degustação. Se ele for fã de pão com manteiga, por exemplo, não haverá grandes problemas. Mas se, como o Edmund, ele gostar de torta de alfrechus crus com hagrates cozidas e uma bola de sorvete de botelatone por cima, complica.

De resto, use sua imaginação, esses foram apenas alguns exemplos. Eu faço outras coisas também, cuido dos móveis, do blog, rego os cactus, cuido de tudo em sua ausência. Que ninguém pense, porém, que sou uma desocupada. Muito pelo contrário, ando muito ocupada.

Josephine é terapeuta. Não é bem terapeuta, mas também não deixa de ser (tenho que dar algum nome para o que eu faço, infelizmente). Como já comentei por aqui, quando contei nossa história, estagiei durante algum tempo em uma clínica psiquiátrica, na época como enfermeira e, mais tarde, como terapeuta.

Nunca me dei bem como terapeuta, era péssima. Chorava quando meus pacientes choravam, ria quando eles riam, ficava brava quando eles enraiveciam, ficava deprimida quando entristeciam-se. Como enfermeira também não era diferente, além de ser imensamente desastrada e errar quase todos os procedimentos dos quais ficava responsável, daquele tipo que aprendeu a dar injeção em maçãs e não foi avisada de que entre pessoas e maçãs há algumas diferenças. Pequenas, porém de imensa importância.

Sem contar que costumava confraternizar com os pacientes e freqüentemente deixava as portas abertas e trocava os medicamentos (eles eram muitos, todos com nomes parecidos), fato que, como diz Edmund, não proporcionou encanto aos diretores da tal clínica.

Atualmente estou temporariamente desprovida de ocupação remunerada e sou sustentada por uma alegre, inteligentíssima, muito agradável e saltitante senhora sexagenária que mora há alguns quilômetros de minha residência de quem cuidei por muito tempo e que, por algum motivo, gosta muito de minha pessoa.

Sustentada por ela por pouco tempo, espero. Pretendo obter novas fontes de renda em breve, para sustentar meu vício por folhas de papel A4. Elas andam cada dia mais caras e não consigo mais viver sem.

Inicio um curso de aperfeiçoamento nesta semana e espero ainda assim ter tempo para continuar com minhas tarefas diárias de manutenção de Edmund e também cuidar deste blog com um pouco mais de afinco. Prometo me esforçar.