sexta-feira, março 05, 2004

Sobre o Carro

Desconfio que o lunaticomóvel seja, na verdade, uma lunaticamóvel. É incrível, Edmund faz um sinal para o carro (ou, se minhas suspeitas estiverem corretas, para a carra) e ele pisca de volta, descaradamente, na minha frente!

Passear com Edmund de carro é sempre uma experiência alucinante, nem sempre vamos aonde gostaríamos, na maior parte das vezes vamos aonde o carro e o trânsito decidem que devemos ir. Não que nos percamos, apenas passamos por alguns poucos momentos em que nos afastamos da trajetória pretendida e nos encontramos em um ponto de discreta confusão de localização geográfica, andando em vírgulas.Depois, eventualmente conseguimos voltar para casa, ou dormimos dentro do carro à beira da estrada mesmo.

Alguém me perguntou se Edmund tem Carteira de Habilitação. É claro que tem! Estranhamente ele foi a única pessoa da turma a passar no psicotécnico, fato que comprova algo de que sempre desconfiei: tal teste não avalia absolutamente nada.

Ele até avisou à psicóloga "Eu sou lunático", ela riu do bom humor daquele jovem e aplicou o teste. Ao final do curso, depois de ter recebido o resultado ele a encontrou pelo corredor e ela, sorrindo (será uma Góia?), disse: "Eu entregaria um carro em suas mãos de olhos fechados". Eu também. Não iria querer nem ver o que aconteceria com o pobre automóvel.

No entanto, como todo lunático, Edmund é perfeccionista, o que o faz um exímio motorista, mesmo em áreas mais movimentadas, extremamente cuidadoso, mas até o momento ninguém (além de mim) teve coragem de pegar uma carona com ele. Talvez porque ele explique ao carro antes de sair, todos os dias, exatamente onde pretende ir e o que espera que aconteça.

Ou porque em certos momentos ele quer ir para um lado enquanto Sigmund (sua outra personalidade) insiste em ir para o outro lado e ameaçam brigar. Mas isso raramente acontece, mesmo porque Sigmund não sabe dirigir e Edmund não quer ensiná-lo, acha-o irresponsável demais para isso. Eu, sinceramente, concordo.

P.S: Agradeço pela colaboração, pelos comentários tão democraticamente distribuídos entre os dois sistemas de comments. Fico imensamente feliz ao ver algum retorno (ou feed-back) aos meus textos. E Moreno, sim, andava em estado de carência profunda, por isso é sempre gratificante ver que passaram por aqui e não saíram correndo, apavorados. Sinceramente, acho que nunca fiquei tão feliz ao ler comentários. Que coisa, não?