Vocês estão acompanhando o Diálogos Soltos? De qualquer forma, pode parecer repetitivo, mas vou colocar aqui algo que já coloquei lá, já que coloquei lá algo que já tinha colocado, anteriormente aqui e seria deveras injusto não repetir a operação em sentido contrário.
Edmund resolveu ir à praia. É, de novo. Mesmo sabendo do meu pavor de tatuíras. Prometeu que, desta vez, não andaríamos na areia, nem tampouco passearíamos no Barco Viking. Sua intenção era única e exclusivamente comer um pastel de carne com ovo e azeitona que, segundo ele, só existe em uma determinada pastelaria em uma determinada rua daquela determinada cidade. E ele estava determinado a ir.
Sabendo que não adiantaria argumentar, já que quando ele decide alguma coisa não adianta eu dizer nada, ele arranja quinhentos novos argumentos para me aporrinhar até que eu me convença- ou canse- e concorde com ele. Devo admitir que Edmund é bem persuasivo quando quer.
Resignada, segui com ele, de carro, pela estrada. O tempo fechando e eu, já desesperada, pois detesto viajar à noite, chovendo então, nem pensar.
- Não quero nem saber, se estiver chovendo e escuro quando voltarmos, eu ficarei em qualquer hotel. Se não quiser ficar comigo, que volte.
- Mas Josie, não vai chover.
"Não vai chover", neste caso, era uma afirmação risível. O céu estava cinza, pesadas nuvens cobriam a luz do sol ao meio-dia. Meio-dia e a aparência era de um final de tarde nublado. Ou pior. Cinza-escuro, as nuvens eram assustadoras. Ou eu é que sou assustada e dramática mesmo.
E, para não perder o costume, ele me perguntou umas vinte vezes se eu realmente queria ir (lembram da história da pizza?). Expliquei a ele o quanto aquilo me irritava e esperava que ele compreendesse.
- O que, exatamente, te irrita?
- Quando você fica repetindo uma mesma pergunta quinhentas vezes.
- Te irrita me ouvir repetindo as coisas?
- É.
- Mas às vezes é necessário.
- Na maioria das vezes não.
- É porque eu fico com dúvidas. Por exemplo, eu te perguntei "Você quer ir à praia?" O que você respondeu?
- Quero.
- Não, você disse: "é..." reticente. Aí eu perguntei de novo: "quer mesmo ir?" E o que você respondeu?
- Que queria.
- Não, você disse: "é...vamos" e eu tive que perguntar a terceira vez, para confirmar, foi necessário.
- Você é louco.
- Olha só, você não quer ir, viu? Me chamou de louco.
- Qual é o problema?
- "Louco" não é algo muito bom, é? Denota insatisfação da sua parte.
- Está chovendo, estou morrendo de sono, fome e frio e você quer ir à praia por causa de um pastel de carne com azeitonas e ovo. Você é louco.
- Está vendo, olhe para o céu, há uma faixa mais clara, o sol está voltando a sorrir.
- E o resto do céu está coberto por nuvens.
- Tudo é uma questão de ponto de vista, saber se o copo está meio cheio ou meio vazio.
- ....
- O que foi?
- Olhe para o tamanho da faixa.
- Tudo bem, saber se o copo está 80% cheio ou 80% vazio....
Sim, Edmund é uma criatura otimista. Otimista demais, devo dizer, coisa que, por mais que me esforce, não consigo ser. Olhar para o céu com densas e escuras nuvens de chuva ameaçando desabar sobre nossas cabeças e achar que uma faixa ínfima de céu ensolarado poderia afastá-las é, no mínimo, alucinação. Algum tempo depois, ouço:
- Veja, a faixa clara no céu está aumentando!
- Ainda que esteja, as probabilidades de aquele monte de nuvem escura cobrir e sufocar sua faixa clara são incontavelmente maiores do que as de o contrário acontecer.
- Você é muito pessimista.
- Não é pessimismo, são fatos! São duas horas de viagem, estamos no meio da estrada, duvido muito que a gente não tenha que voltar no escuro, sob chuva.
- Você é insensível, Josephine.
Bem, fomos à praia, comemos o tal pastel maravilhoso, aliás, dois, passeamos de carro na areia e vimos um pássaro bastante estranho, alucinado, Edmund encantou-se com ele. Mas sobre esta ave o próprio Eddie escreverá depois. Ao menos foi o que ele disse. Eu estava cansada, com sono, dores nas costas e péssimo humor.
Edmund está sempre feliz e para ele tudo é colorido e ensolarado, ainda que esteja tudo cinza. São as vantagens de ser um lunático. Voltamos. Conforme o previsto, sob chuva e escuridão. Não cumpri minha ameaça (a bem da verdade esqueci-me dela) e voltei com ele, mesmo naquelas condições terríveis. Para não brigar com tão saltitante criatura, preferi dormir.
Acordei tão cansada quanto dormi e, ao chegar em Porto Alegre o rapaz ainda queria fazer outros passeios. Agradeci, mas disse que precisava descansar. Vim para casa e desmaiei em minha cama. Ele voltou para casa, calmo como sempre.
Edmund resolveu ir à praia. É, de novo. Mesmo sabendo do meu pavor de tatuíras. Prometeu que, desta vez, não andaríamos na areia, nem tampouco passearíamos no Barco Viking. Sua intenção era única e exclusivamente comer um pastel de carne com ovo e azeitona que, segundo ele, só existe em uma determinada pastelaria em uma determinada rua daquela determinada cidade. E ele estava determinado a ir.
Sabendo que não adiantaria argumentar, já que quando ele decide alguma coisa não adianta eu dizer nada, ele arranja quinhentos novos argumentos para me aporrinhar até que eu me convença- ou canse- e concorde com ele. Devo admitir que Edmund é bem persuasivo quando quer.
Resignada, segui com ele, de carro, pela estrada. O tempo fechando e eu, já desesperada, pois detesto viajar à noite, chovendo então, nem pensar.
- Não quero nem saber, se estiver chovendo e escuro quando voltarmos, eu ficarei em qualquer hotel. Se não quiser ficar comigo, que volte.
- Mas Josie, não vai chover.
"Não vai chover", neste caso, era uma afirmação risível. O céu estava cinza, pesadas nuvens cobriam a luz do sol ao meio-dia. Meio-dia e a aparência era de um final de tarde nublado. Ou pior. Cinza-escuro, as nuvens eram assustadoras. Ou eu é que sou assustada e dramática mesmo.
E, para não perder o costume, ele me perguntou umas vinte vezes se eu realmente queria ir (lembram da história da pizza?). Expliquei a ele o quanto aquilo me irritava e esperava que ele compreendesse.
- O que, exatamente, te irrita?
- Quando você fica repetindo uma mesma pergunta quinhentas vezes.
- Te irrita me ouvir repetindo as coisas?
- É.
- Mas às vezes é necessário.
- Na maioria das vezes não.
- É porque eu fico com dúvidas. Por exemplo, eu te perguntei "Você quer ir à praia?" O que você respondeu?
- Quero.
- Não, você disse: "é..." reticente. Aí eu perguntei de novo: "quer mesmo ir?" E o que você respondeu?
- Que queria.
- Não, você disse: "é...vamos" e eu tive que perguntar a terceira vez, para confirmar, foi necessário.
- Você é louco.
- Olha só, você não quer ir, viu? Me chamou de louco.
- Qual é o problema?
- "Louco" não é algo muito bom, é? Denota insatisfação da sua parte.
- Está chovendo, estou morrendo de sono, fome e frio e você quer ir à praia por causa de um pastel de carne com azeitonas e ovo. Você é louco.
- Está vendo, olhe para o céu, há uma faixa mais clara, o sol está voltando a sorrir.
- E o resto do céu está coberto por nuvens.
- Tudo é uma questão de ponto de vista, saber se o copo está meio cheio ou meio vazio.
- ....
- O que foi?
- Olhe para o tamanho da faixa.
- Tudo bem, saber se o copo está 80% cheio ou 80% vazio....
Sim, Edmund é uma criatura otimista. Otimista demais, devo dizer, coisa que, por mais que me esforce, não consigo ser. Olhar para o céu com densas e escuras nuvens de chuva ameaçando desabar sobre nossas cabeças e achar que uma faixa ínfima de céu ensolarado poderia afastá-las é, no mínimo, alucinação. Algum tempo depois, ouço:
- Veja, a faixa clara no céu está aumentando!
- Ainda que esteja, as probabilidades de aquele monte de nuvem escura cobrir e sufocar sua faixa clara são incontavelmente maiores do que as de o contrário acontecer.
- Você é muito pessimista.
- Não é pessimismo, são fatos! São duas horas de viagem, estamos no meio da estrada, duvido muito que a gente não tenha que voltar no escuro, sob chuva.
- Você é insensível, Josephine.
Bem, fomos à praia, comemos o tal pastel maravilhoso, aliás, dois, passeamos de carro na areia e vimos um pássaro bastante estranho, alucinado, Edmund encantou-se com ele. Mas sobre esta ave o próprio Eddie escreverá depois. Ao menos foi o que ele disse. Eu estava cansada, com sono, dores nas costas e péssimo humor.
Edmund está sempre feliz e para ele tudo é colorido e ensolarado, ainda que esteja tudo cinza. São as vantagens de ser um lunático. Voltamos. Conforme o previsto, sob chuva e escuridão. Não cumpri minha ameaça (a bem da verdade esqueci-me dela) e voltei com ele, mesmo naquelas condições terríveis. Para não brigar com tão saltitante criatura, preferi dormir.
Acordei tão cansada quanto dormi e, ao chegar em Porto Alegre o rapaz ainda queria fazer outros passeios. Agradeci, mas disse que precisava descansar. Vim para casa e desmaiei em minha cama. Ele voltou para casa, calmo como sempre.
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