sexta-feira, setembro 24, 2004

O Retorno das Tatuíras



Sou uma Lady. Daquelas frescas ao quase-extremo. Que não fala palavrão, não acha bonito campeonatos de arroto, gosta que o ilustre namorado abra a porta do carro (e Edmund é o tipo de homem em extinção que abre a porta do carro para uma dama), que detesta ouvir do ser amado um comentário chulo ou uma grosseria.

Felizmente Edmund é um Lorde. Um Lorde mesmo, como podem notar pelos textos. Aparentemente somos dois chatos, mas isso não é verdade. Nossas diversões podem parecer meio estranhas, mas eu garanto que são muito normais. Agora, por exemplo, adquirimos o hábito de observar Tatuíras na praia. o que pode parecer esquisito para quem já leu este texto, mas que tem lá sua lógica científica.

Passamos pela praia dia desses e, desta vez, eu estava de sandália, o que diminuiu bastante o impacto de estar pisando em Tatuíras desesperadas e enterradas.

Só que na praia em que fomos, as Tatuíras eram anabolizadas. Milhões delas, correndo perto da superfície a cada onda, desesperadas para comer alguma coisa. Fiquei pensando. O que elas comem?

Dia desses, em uma exposição de livros infantis, lemos um exemplar de uma coleção muito interessante que conta, em rimas e com ilustrações infantilizadas, a história da vida de diversos bichos, existe a ameba, o gato, o cachorro, a aranha, o plâncton, entre uma infinidade de outros seres.

Li a história da aranha, da ameba e do plâncton, mas nada me emocionou mais do que a história do Plâncton. O pequeno Plâncton era sempre ameaçado pelos outros bichos do mar, eles queriam comê-lo, mas tudo o que ele queria era seguir sua vocação e ser um grande artista.

O pequeno Plâncton se esforçou, começou a pintar seus amigos do fundo do mar, a lula, a arraia, a baleia e até mesmo um tubarão. O pequeno Plâncton gostava de viver perigosamente. Em pouco tempo o pequeno Plâncton tornou-se famoso, mergulhadores admiravam-se das cores dos peixes e de outros bichos e o pessoal do fundo do mar adorou estar tão colorido por um Plâncton tão talentoso.

Os peixes até gostariam de comê-lo, mas jamais comeriam um bichinho tão simpático, famoso e talentoso. Ele era uma celebridade altamente carismática do fundo do mar. E continuou feliz, realizou seu sonho e continuou a pintar, como o artista que era.

Pula para a praia. Eu e Edmund, olhando Tatuíras. Vem a onda, cobre a areia, a onda sai e leva os grãos que cobrem as Tatuíras, que saem correndo, semi-cobertas pela areia, até enterrarem-se novamente.
-Ok - penso em voz alta- Se elas não gostassem disso, não ficariam aqui. Poderiam enterrar-se mais fundo, nenhuma onda as encontraria, nenhum pé pisaria sobre elas. Ou não. Que vida horrenda, passam o dia inteiro correndo assim!

Mais uma onda. Desta vez vem em nossa direção, nos afastamos e depois nos aproximamos novamente, ainda olhando para o chão. Edmund pergunta:
-Isso deve ser estressante. Será que elas não dormem?
- Acho que não. Ou entam enterram-se bem fundo para tirar uma soneca.

A essa altura eu já estava simpatizando com as pobres Tatuíras e parte daquele meu trauma inicial já havia se dissipado. Edmund então pensou em algo bastante provável:

- Talvez elas estejam apenas comendo. Acho que elas saem assim para comer.
- É, elas vivem a vida inteira debaixo da areia, não fazem nada além de correr das ondas e se esconder. O que será que elas comem?
- Sei lá, elas devem comer alguma coisa que venha com as ondas, devem filtrar alguma coisa. Devem comer...quem sabe...- Olhei para Edmund. Não podia crer que ele diria aquilo. Mas ele disse-...quem sabe...plâncton?

Olhei para o chão, apavorada, os olhos, já enormes, esbugalhados, lembrando-me do pobre Plâncton, meu amigo, a quem eu vira naquele livrinho e a quem tanto me afeiçoara. Não pode ser!! Que monstros! Comem aqueles bichinhos tão bonitinhos e talentosos, que pintam outros bichinhos no fundo do mar. Tá, eu sei que isso não é verdade, mas....puxa vida, justo o Plâncton? Fiquei, novamente, traumatizada. Devo dizer que Edmund também, embora, para me animar, ele tenha dito:

- Calma, não é aquele Plâncton, são outros plânctons.

Não sei se ajuda. Só sei que a cena me pareceu monstruosa. Tatuíras transgênicas anabolizadas correndo para capturar os pobres e sensíveis plânctons sobre os quais li naquele livrinho para crianças. Definitivamente, sou um ser influenciável.

Mas eu sei! Tatuíras não têm cor. Claro, nunca deram aos Plânctons oportunidade de pintá-las ou talvez não gostem deles justamente por isso, inveja. Porque são pálidas e eles vivem sempre rodeados de tintas, cores e alegria planctoniana. Tatuíras são seres tristes, com uma vida sem-graça. Leram o livro sobre a vida do Plâncton e resolveram dedicar suas vidas a acabar com essa espécie que enche o fundo do mar de cor e alegria, com seu talento inquestionável. A intenção das Tatuíras é acabar com os seres coloridos, para que se sintam menos incolores. Pensando bem, conheço muita gente assim.

Os plânctons é que são bobinhos, ao invés de se conformar em ser comida de todo mundo, deveriam ficar bem longe desses seres invejosos. Tudo bem, existe toda aquela coisa de cadeia alimentar, etc, etc...mas aquele livrinho infantil confundiu minhas idéias. Preciso pensar mais a respeito. Preciso pensar.

---------------------------------
Comentários deste post:

"Por que ninguém comentou ainda? Será que tem algum problema com o sistema de comentários?

Então, se ninguém comentou, me vejo compelida a comentar sozinha.

Amo plânctons porque são seres indefesos e detesto tatuíras porque são seres esquisitos.

Abraços ao Edmund e espero que os demais leitores deste Diário despertem de sua hibernação sem fim.

Se eu fosse Josephine, não tornaria a escrever enquanto não tivesse, no mínimo, três comentários."
Van Lampert 09.26.04 - 11:53 pm

"Tambem conheço gente tatuíra. As que dão na praia, são boas em risoto, sabia? :)
beijo grande,
(e um abraço solidário)
Claudia 09.27.04 - 1:34 am

"Tatuíras são bixinhos bem esquisitos... o_O"
Miya_chan 09.27.04 - 2:13 am

"De uns tempos pra cá, também ninguém quis comentar no meu blog.Teve apenas oito comentários,mas depois ninguém mais veio.Acho que enjuaram de ler as coisas que escrevo, ou seja por falta de tempo.Mas, apenas algumas pessoas me colocaram para bligs amigos.Bom, se
você puder Josephine, por favor entre um pouco lá no meu blog, e comente.Ficarei muito feliz!
Beijos de chocolate ligh."
aryadne 09.27.04 - 11:43 am

"Em Saquarema (RJ) as pessoa comem Tatuíras fritas, eu confesso, é gostoso, lembra formiga na brasa..."
Thiago Dhatt 09.27.04 - 10:57 pm

"Josephine,

Obrigado pelos adoráveis elogios, e, sobretudo, pelo apoio à nossa causa. Tem sido difícil trabalhar e trazer cor e alegria a um mundo sombrio como este em que uma morte violenta espreita a mim e a meus irmãos plânctons a cada onda que se espalha por sobre aquelas pavorosas criaturas descoloridas que habitam as areias."
Plâncton 09.28.04 - 11:07 pm

"un saludo desde españa.eres de lo mejor.muacs
shely 09.30.04 - 8:18 am

PS: Os donos deste blog não se responsabilizam pelos comentários deixados pelos leitores, como os transcritos acima.


2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Confesso..minha primeira experiência com planctosn foi maravilhosa.Tão pequenos..tão luminosos..me encanta.Espero sempre pela próxima viagem à praia já lembrando que irei reve-los..lindos..estrelas da areia.
Um trilhão deles espalhados,escondidos na areia..esperando os olhos mais atentos para serem notados.

Minha ultima viagem foi mais sensacional por ter conseguido ver o maior plancton do mundo..foi a experiência mais insana que já pude ter..de pega-lo na mão....hj eu posso dizer em alto e bom som..***EU VI UM PLÂNCTON!!!!****

12:17 PM  
Blogger elisangela said...

Eu faço tatuiras fritas sera que a gente realmente pode comer tatuiras?se alguem souber sobre isso me mande respostas.

8:01 AM  

Postar um comentário

<< Home