segunda-feira, junho 21, 2004

Ócio, Caos e Criacionismo.



Acordei, de um sobressalto. Precisava escrever. Liguei o micro, os dedos, confusos, sobre o teclado, sem saber o que digitar. Uma e outra letra, seguindo o ritmo alucinado ditado por meu cérebro insone, uma a uma, construindo palavras aparentemente sem sentido, nenhum tato, nem olfato, audição ou paladar. Sentido algum, dos cinco que conheço, e do sexto, que mal sei.

Sentada ainda, a cabeça doendo, os olhos pedindo para serem fechados. Não, não, continuemos as palavras, de onde eu havia parado. Quem mandou começar? Quem mandou? Não foram os mesmos olhos que abriram, de madrugada, enquanto deveriam ter ignorado a falta de sono e continuado, até dormir novamente? Quem mandou?

E quem disse que alguém manda em mim? Ah, nem mesmo eu mando! E tanto tempo depois da última vez que escrevi, finalmente algo para colocar na tela do computador. Precisava mesmo, imprimir aquele texto. Ah, mas quanta coisa esqueço de fazer simplesmente por não ter anotado. Para isso tenho um bloquinho em cima da mesa. Mas não sei onde está a caneta.

Tinha um lápis para olhos aqui, marrom. Estava anotando coisas no papel com ele, agora não sei onde está. Vejo uma chave de fenda, um alicate de unha, um esmalte e uma pinça. Entre todos esses objetos, acho que apenas o esmalte de unhas serviria para anotar algo no papel, mas ficaria estranho. Ou riscar forte com a chave de fenda, para ler depois, meio 007, a anotação invisível, sem tinta.

Um creme para as mãos, fluido siliconado para os cabelos, pacote vazio de bolacha, brincos, fita adesiva, frasco do polivitamínico do Edmund, relógio, grampos de cabelo, ímã de geladeira, scanner, brilho labial, impressora e monitor. Tudo isso em cima de uma única mesa de computador.

Edmund é um ser organizado, neurótico, perfeccionista. Eu acho que as coisas devem ficar tranquilas, à vontade, não devem ser estressadas. Por isso minhas coisas são mais felizes que as dele. Vivem suas vidas de coisa, coisificadas, alegres, mudando de lugar quando bem entendem, sem sentir a pressão de uma arrumação obrigatória de sábado. Elas vivem em ócio criativo. E lêem Domenico de Masi.

Invento agora o Caos criativo. Tudo se cria melhor no caos. Porque é da bagunça que as boas coisas surgem. Conta a história judaica (e cristã) que Deus fez tudo o que conhecemos a partir de uma Terra sem forma e vazia. Veja bem, ela estava sem forma, tudo um grande caos, o tal do Lúcifer havia sido lançado na Terra e destruído toda a primeira criação, diz quem estuda essas coisas. Então, estava tudo bagunçado, pronto para ser transformado em algo verdadeiramente útil.

Primeiro, o Criador teve que limpar o terreno, criou um buraco fumegante e jogou aquele cara chato lá dentro, depois fez as coisinhas arrumadinhas que vemos todos os dias, quando não vemos coisinhas desarrumadinhas.

A quem não acredita nessas coisas, os ateus, os agnósticos, os que acreditam que a Terra foi formada por ETs (o que é bastante óbvio, já que, sendo a Terra inexistente, seus criadores jamais poderiam ser terrestres, então, obviamente, seriam extra-terrestres), e os outros, que acreditam em outra coisa que não seja isso, não briguem comigo, é o melhor exemplo que eu poderia dar a respeito do Caos criativo.

Viu a Terra toda bagunçada e teve uma idéia incrível!!! Tudo bem, dizem, ele já tinha criado outras coisas na Terra antes, mas convenhamos que aquele negócio de lagartão era muito esquisito. Melhor mudar os rumos da coisa e fazer bichinhos mais delicados e agradáveis à vista, como o homem e o rinoceronte.

Não que eu vá criar um planeta inteiro e diversos ecossistemas a partir da minha mesa, mas talvez algum bom texto dela saia...ou não, acho melhor esperar que acumule mais um pouco de coisa e o caos se instaure com mais propriedade, para que então eu possa pensar em escrever algo mais substancial, quem sabe, se houver ainda alguém que leia minhas linhas.


PS: Alencar, obrigada :) Mas acho que o mundo não sentiria muito a minha falta, caso eu não tivesse nascido. Little Winnie, tem razão, enquanto eu não conseguir uma terceira personalidade, vocês leitores têm desempenhado essa função de levantador de moral :) Obrigada. Ah, e não sou uma carioca enrustida...risos... Dostoiévski, não sei qual é a causa de tal fenômeno, talvez devesse perguntar ao Edmund se ele estava bem quando te colocou nos links, se tinha tomado a medicação correta, enfim, isso foi uma reclamação?

Cal, ainda estou aguardando o seu e-mail. E se Edmund tivesse deixado Sigmund escrever o subtítulo, certamente, sairia em terceira pessoa. Mas Josephine gosta muito dos comentários de Cal, em qualquer pessoa :) Guria, por favor, comente quando aparecer, livre-se de sua timidez. Senão eu é que fico tímida e não posto mais nada. A propósito, o namorado é meu, mas essa Góia do post anterior o divide comigo. Nelson, como ignorar a Moça Crítica? Ela me persegue 24 horas por dia e se o dia tivesse 35 horas ela me seguiria nas outras onze também. Butterfly, felizmente você se recuperou. Quanto ao Diário, realmente, ele não seria o mesmo sem mim...seria melhor :) E chato, que chato você não ter lido o post! Respeitosos abraços a todos.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

hhhmmm .... quanto mais aprendo, mais chocado percebo a vastidão da minha ignorância

3:49 PM  

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